O telejornal é vermelho.
Ontem, o telejornal começou assim que acabou o jogo - mal deu para se ver o Mourinho a fazer a única coisa que o faria sair airosamente de uma das suas raras derrotas. E não me refiro ao jogo, nada disso, refiro-me à soberba com que vinha divinamente convicto de que, no Dragão, eram favas contadas. Confesso que andava há umas semanas a sonhar acordada com a possibilidade de ver, no final do jogo de ontem, o Mourinho a sair cabisbaixo, de dentinhos cerrados a murmurar impropérios ao Porto. Bem sei que isto é hooliganismo do mais genuíno, mas não passa de mera sintomatologia e passa depressa.Falava eu do telejornal, que começou quase logo a seguir ao apito do árbitro. Nada de flash-interview. O alinhamento omitiu o jogo até ao fim: abriu com o interrogatório ao Pinto da Costa, continuou com a lamacenta política nacional, passou pela Ucrânia e pelos fait-divers correntes, tornou ao Pinto da Costa e só depois, no fim, tornou ao jogo que tinha acabado de transmitir. Em directo, note-se. No ano passado, o país deprimia sempre que o Porto ganhava; este ano, prefere-se arejar o pensamento com coisas menos deprimentes, como sejam a tomada de consciência de que SL ainda é o Primeiro-Ministro (e nem sequer é, ainda, demissionário). O telejornal do regime satisfaz as maiorias. Não são uns milhões, espalhados pelo país e pelo mundo? Pois.
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