Blogame mucho: Fidel, Maquiavel (e moral, também)

5.12.04

Fidel, Maquiavel (e moral, também)

JPT contra-argumenta, num post onde conjectura e adivinha bastante mais do que o que se lê no que eu disse aqui. Maldito preconceito. Maldita tendência humana de, nem que seja à força, tratar de meter cada um de nós, pobres mortais pensantes, numa prateleirazita do conhecimento e da ideologia que fecha o sistema e o torna compreensível, ainda que se flutue apenas na espuma das ideias.

Lembro o JPT, antes que me esqueça, que nenhuma pretensão ou moralismo me move em relação às opiniões alheias: quando falei de Fidel, expressei a minha opinião. Não lha impus. Foi o JPT que entendeu criticá-la, o que me agradou e motivou a minha resposta. Não vejo, porém, qualquer sentido em discutir pessoas e tendências políticas - as minhas - se o tema de que se falava não era este. No que escreveu, JPT escreve numa boa parte sobre mim, e não sobre o que eu disse. O que, ainda que possa parecer elogioso, mais me parece despropositado. É sempre preferível, porque mais evolutivo e produtivo, discutir ideias e projectos do que pessoas. Nesse sentido, gostaria bastante mais que JPT discordasse de mim sobre Fidel e sobre Maquiavel, ao ponto de me dificultar a resposta. Que debatesse, em vez de se refugiar em lamentos. Não o quis assim.

Não o fez sobre Maquiavel: limitou-se à meta-crítica, embora disfarçada de defesa. Afirma que eu achei desajeitada a sua citação, que lamenta o uso grosseiro que fez do filósofo. E refugia-se, depois, na altiva postura de quem acha mais, mas não divulga. Tenho pena disso e não, não achei coisa nenhuma. Eu só disse é que eu o usei deturpadamente. Expliquei-me, pelos vistos em vão.

Sobre Fidel, JPT explica a sua livre, mas prodigiosa, associação de pensamentos. Não, JPT, não sou simpatizante, filiada, membro ou dirigente do PCP. Por razão nenhuma: apenas porque não sou. É danada, essa mania de arrumar toda a gente em prateleiras. Pode-se encontrar virtudes num ditador que teve o apoio soviético sem que imediatamente alguém lhe cole uma etiqueta partidária? Curioso, isto: são processos autónomos que, no final, convergem. Eu, lolita, e o PCP pensamos da mesma forma em relação a Fidel. Bonito. Isto é bom? Para o PCP é indiferente, para mim... também.
Devo dizer, porém, que JPT leu bem quando se deu conta que eu, aqui, omiti o PCP. Foi intencional, sim, mas esse tema fica para outro dia.

De lamento em lamento, adivinha-se (agora é a minha vez, pois), afinal, um JPT superior. Em clarividência e em assombrosa predisposição para o juízo moral. Ou não; o JPT pode não ser nada disto. São, apenas, simples adivinhações.

Eu preferia que JPT discutisse Fidel. E Maquiavel. Era isto que lhe queria dizer, JPT. De tudo o que acabo de escrever, faça-me o favor de fixar apenas isto, enquanto se mira no seu espelho inquebrável.