blog caliente.

13.11.04

Má fortuna

A blogosfera inteligente anda morna, vai-se segurando na morte de Arafat e na sublime inconsciência de Santana Lopes para alimentar polémicas. A blogosfera sentimental continua igual, como sempre foi e como sempre será: o conceito é intuitivo, anda à volta do "falo de mim e da minha alma", sendo, por isso, apropriável por um número potencialmente infinito de anónimos que entendem achar que a sua vida (interior, pois claro) é suficientemente interessante para qualquer indiscriminado leitor. Como é fácil de perceber, daqui decorre que o universo de blogues confessionais é suficientemente amplo para integrar escritos dignos de comparação com os mais inspirados versos de Petrarca aos escritos que, se fossem cantoras, se chamariam... Dulce Pontes, pois! Nada de anormal nisto, evidentemente. A blogosfera imita o mundo e toda a gente sabe que é mais difícil encontrar dez bem pensantes emotivos no meio de meia dúzia de milhões de pessoas do que uma agulha num palheiro industrial. E que, dos dez bem pensantes emotivos, pelo menos metade não serão escolarizados ou, até, possivelmente analfabetos: o que implica, desse conjunto, só cinco poderiam escrever num blogue.

Devo notar que nada disto é assim tão hiperbolizado como descrevi nem sequer o tema me interessa por aí além. Na verdade, tenho de confessar que só me servi daquela falta de assunto para entreter a espera. Encontro-me, pois, num condenante estádio de espera. Aproximam-se uns dois ou três dias que eu dispensaria até pagando para que me dispensassem deles.
Como não tenho dispensa, começo amanhã a contá-los, qual condenada, para que mais rapidamente se transformem em passado. O problema é que, neste preciso momento, esses dias ainda estão num irritante futuro próximo que é, todos sabemos, bastante mais incómodo do que um futuro longínquo e três vezes mais irritante.

Mas eu, enfim, não perco de vista que há coisas bastante mais incomodativas. Um exemplo? Aqui vai: há pouco, caiu-me um peixinho em cima. Não é agradável nem normal, até porque, imediatamente a seguir, ele caiu no chão, aparentemente morto. Mas há coisas bem piores: além do peixinho, também me caiu em cima toda a água do aquário. Explodiu, o sacana. Coisas que nem as leis da física explicam.

Despeço-me com esta húmida lição de vida. O besugo, o alonso e o stkaneko cuidarão disto (do blogue, que da inundação já eu tratei) com a atenção que eu sei que eles sabem que eu sei que eles dão. Eu volto, dentro de (felizmente poucos) dias. Antes que me esqueça: o peixinho não morreu e está vivaço, dentro da taça de pirex para bavaroises onde vai ter de dormir esta noite.

Entretanto, o Porto lidera o campeonato. Está tudo bem, dentro de dias estará ainda melhor.

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