Esguichos de besugo
1 - Começou o julgamento do chamado "Caso Casa Pia". Um dia dedicado àquilo que parece chamar-se "questões processuais".Boa malha. É como se, em pleno bloco operatório, a equipa se reunisse, diante do doente anestesiado, a discutir a técnica cirúrgica.
Tempos de anestesistas, os nossos. Aqui há uns tempos, uma anestesista "nouvelle vague" engonhou o início da cirurgia com procedimentos protocolares inatacáveis: era o catéter central que estava difícil, eram as análises do doente que lhe não pareciam de feição, era tudo um problema, até o raio da colcação do tubo endotraqueal. O cirurgião, luvas calçadas e benévola paciência na fronte, já impaciente, acabou por confidenciar à colega que "olhe que eu acho que o doente veio de casa até aqui para ser operado, não para ser anestesiado".
É um exagero? Uma coisa nada tem a ver com a outra?
Concedo. Associações livres é no que dão.
2 - O Sporting ganhou em Tbilissi. Claro que gostei, vi o jogo, mas parece-me que os georgianos poderiam perfeitamente andar a competir com o Maia e com o Amadora, na nossa segunda divisão, aí pelo meio da tabela. Não, nem sequer sorrio: missão cumprida, quando fácil, merece apenas singelo registo.
3 - O meu filho mais velho sai de casa às 8 e meia da manhã e reentra às 18 horas. Está na escola, entretanto. Gosta de andebol, eu também gosto que ele faça desporto, vai a dois treinos por semana. E, nesses dias, chega, toma banho, vamos jantar; a seguir, tem de "fazer deveres". Agora marcam-se "trabalhos de casa", na escola secundária. Eu pasmo. Pasmo com isto e com os horários. Os putos devem ter tempo para estudar. É onde aprendem, no estudo. Não é nas aulas. Falo por mim: não se tivesse dado o caso de ter tido meia dúzia de professores liceais talentosos, diria que, na maior parte das vezes, chegava das aulas com a estranha impressão de que tinha estado a "pastar" em prados secos e que tinha de me sustentar em casa.
Decidam-se duma vez, pedagogos: aulas de manhã, para as cotovias, ou de tarde, para as toutinegras. Ou de manhã e de tarde, se quiserem, mas, nesse caso, nunca ultrapassando o pôr do sol. Dêem tempo aos putos para estudar, façam menos organigramas normativos em que tudo parece bater certo (no papel) e libertem-se, de vez, dessa ideia de "escola em permanência". O insucesso escolar advém da falta de estudo e não da falta de aulas. O sucesso académico provém do tempo que for dado aos estudantes para fazerem trabalho de cabeça, labor de raciocínio mas, também, de memorização. A memória é uma das vertentes da inteligência, o PREC educativo acabou, ouviram? Deixem os putos estudar, os que quiserem. O estudo é uma actividade que requer concentração, sossego, paz. O estudo tem de ser sério, não é coisa para "bués".
Apetece dizer: "Teachers: leave the kids alone!".
4 - O maestro Graça Moura abandonou o tribunal, diz o Público "online" de hoje. Fui ler, o título levou-me a pensar que tivesse fugido, saltado pela janela. Mas não, parece que aquilo acabou e ele saiu. E meteu-se num carro, pasme-se; podia ter sido num autocarro, numa trotineta. Foi, estranhamente, num carro.
Que estranho evento, que notícia airosa, que título bom!
É no que dá, jornalistas irritados por não se saber se o maestro Graça Moura foi vítima de alguma medida de coacção. Solicita-se ao irmão Vasco que traduza isto, suando como de costume por cima das beiças finas de tradutor sensível e laborioso de todos os Petrarcas. Se possível em verso.
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