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23.11.04

O mito de Orfeu

Orfeu, habitante da Trácia e tocador de cítara e de lira, encantava todos com a sua música e com o seu canto. Quando cantava, tudo se suspendia, todos se detinham, mesmo os corações mais gelados. Com a sua música, ensinava os néscios, enternecia os irascíveis e amansava os selvagens.

Orfeu amava perdidamente a ninfa Eurídice, a quem se uniu. No dia das núpcias, Aristeu quis forçar Eurídice a entregar-se-lhe e Eurídice, enquanto fugia, foi picada por uma serpente que lhe causou a morte fatal. Inconsolável com a morte da sempre amada, Orfeu deixou de cantar e de tocar e abandonou-se a um profundo e silencioso choro.

Um dia decidiu descer à profundeza das sombras, a ver se encontrava Eurídice e a trazia de volta. Levou a sua cítara e tocou para as trevas. Encantou as almas escurecidas com a sua voz divina. Comovidos, os deuses do breu decidiram devolver-lhe Eurídice, impondo-lhe, porém, uma condição: que, durante o seu regresso ao sol, nem por um segundo olhasse para trás para ver se Eurídice o seguia.

Orfeu aceitou a condição e iniciou a longa viagem a caminho da luz. Enquanto caminhava, duvidou. A dúvida transformou-se em desconfiança e a desconfiança transformou-se em certeza: os deuses das sombras estavam a enganá-lo. No exacto momento em que abandonaria o breu e tornaria a ver a luz, Orfeu olhou para trás e viu Eurídice. Eurídice esvaiu-se, pela segunda vez, e Orfeu perdeu-a para sempre.

Em desespero, Orfeu esgotou o resto dos seus dias a repelir todas as outras mulheres. Morreu esquartejado pelas Mênades, enfurecidas pelo desprezo que ele lhes devotava. Os seus restos foram lançados ao rio Hebro, para desgosto dos deuses que, em fúria, castigaram os trácios com a peste, que só acabou quando encontraram a cabeça de Orfeu na Jónia e ali erigiram um templo em sua memória.

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