A saga (3)
"Eu também estava de turno!" - bradou ele."Pois, pois, excelente Varges, pois estavas, a gente sabe disso!" - disseram-lhe.
Sairam impressas variadíssimas análises, todas elas firmes de rochosa sageza:
1 - Que a honestidade e a competência de Varges não estavam em causa, pelo menos a competência...
2 - Que sim, que estava de turno, perfeitamente de turno.
3 - Só era pena aquele aforismo da mulher de César...
Sim, Varges, eu li, eu bem vi que aquilo da esposa do falecido romano não era só consigo. Sabe porquê, Varges? Eu digo-lhe: porque era também com outras pessoas! Era, também e sobretudo, com outras pessoas. Menos com quem você sabe muito bem, como eu sei, que devia ser.
Que se leu por aí? Leu-se que você devia ter recusado, elevando a fronte, leu-se que Paulo Pedroso devia ter-se atirado ao chão, berrando que o não queria a si... Não foi o que se leu? Foi, pois.
Olhe, Varges, por mim fique tranquilo. Que o que se leu foi isto, afinal, que lhe simplifico numa pequena estória: Manuel interpôs recurso contra António; quando se soube que o recurso ia ser relatado por José, talvez amigo de António, toda a gente bradou contra o suspeitíssimo silêncio de António e de José, esquecendo-se de que estrebuchar competiria, fora do estrito plano da moral e da ética - que se não vislumbra que escorram por aí em tal abundância que careçam de ser para aqui chamadas, mesmo que só por conveniência - a Manuel. Sim, a Manuel, principal zelador daquilo que interpôs.
Enfim, hoje lá foi Manuel, pelos vistos, mostrar que é zeloso. A reboque, mas sempre com aquele ar de quem vai à frente, a puxar a charrua.
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