blog caliente.

14.8.04

Até à vista.

Ser verdadeiramente pobre é perceber que a nossa pobreza não chega para enriquecer a pobreza dos outros. Não faz sentido existir sem os outros e sem ser pelos outros. Não faz.
Dizer a um amigo e colega, que já vai sabendo das coisas de morrer (mas aprende connosco e com a vida que se morre mesmo, que se morre ao nosso lado), que não temos mais nada a fazer pelo Pai senão tirar-lhe as dores, dar-lhe suplementos nutritivos, ir falando com ele sobre "o nosso Sporting que, em Setembro, quando nos virmos outra vez, já há-de estar em primeiro, isolado!", faz-nos perceber que a pobreza está em nós, dentro de nós. Que somos, apenas, os próximos pobres.

Depois, vamos de férias e deixamos o número do telemóvel para que saibamos, em tempo competente, que é capaz de não haver esse Setembro.

"N", Homem pobre e bom que não me lês e vais morrer num dia que não sei: se não houver Setembro, se eu não te vir mais, que tenhas paz depois, ao menos. Eu vou de férias sabendo que posso não te voltar a ver, que o problema é teu, que saber que estás assim me mói e que trocava qualquer vitória do Sporting, para o resto dos tempos, pela sabedoria de te fazer viver.

Merda, eu não escrevo mais nada. A ternura dos pobres é a coisa mais estúpida que há. Mas é fodido descansar depois de olhar fundo nuns olhos que enganamos com um esgar de esperança que não temos.

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