Jardins da Babilónia
No fim da tarde de sexta-feira passada, lembro-me que me sentia exausta. Impunha-se, porém, que, à noite, fosse ao Coliseu ver a Rita Lee. E fui.
Rita Lee não é uma diva da MPB, como o foram (ou são) Elis Regina, Bethânia, Gal Costa ou a malograda Nara Leão, cuja voz era a Bossa Nova. Rita Lee é brasileira de empréstimo, uma outsider americana de raça tornada impura, uma paulista sem bunda, como ela própria diz. Enquanto a via no palco, ocorreu-me que provavelmente lhe falta um dos chips do amadurecimento que fazem com que, à medida que envelhecem, as pessoas se tornem mais contidas, mais conformistas e mais pudoradas. Rita Lee tem cinquenta e seis anos e cultiva a postura inconsciente e exibicionista tipica de uma adolescente a que acrescenta diversos mimetismos de palhaço de circo. O que não é, note-se, censurável. Longe disso. Sobra-lhe talento musical e expressividade. Eu gosto daquele boss’n’roll inspirado, feito de melodias atraentes e letras inteligentes, embora leves. Homenageou Cássia Eller e Cazuza, falou demoradamente com o público, ironizou com inteligente subtileza sobre brasileiros e portugueses em doses iguais e gostou, visivelmente, que lhe conhecessem as canções. Tudo agradavelmente saboroso. Minha saúde não é de ferro, não/Mas meus nervos são de aço/Pra pedir silêncio eu berro/Pra fazer barulho eu mesma faço/Ou não! Trabalho limpinho. Na foto, os Mutantes, a banda de que fazia parte em 1830, como ela disse a dada altura.
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