Patíbulos encerados
Detesto este homem desde que o ouvi defender, há anos, a pena de morte. É um exercício despudorado de trapezista cego, defender a morte.
Traduz bem (dizem) Petrarca, dizem-me que é um talentoso poeta (mas, para mim, torpe besugo, a poesia é uma redundância menor da prosa, um rendilhado "alternativo" da palavra, a menos que tenha música a justificar-lhe os "bilros").
O mais elevado serviço que este "novo carrasco" prestou às minhas certezas profundas foi o seguinte: catalisar-me (e dirigir-me, sebáceo alvo o vejo eu!) o ódio profundo que dedico aos selvagens que pensam a selvajaria. Eu, aos outros selvagens, desculpo. A estes não.
Um ódio de besugo é um pequeno ódio. Ninguém liga a ódios menores, eu sei. São ódios de trazer por casa, como se fossem chinelos da alma.
Mas, também, só traduz Petrarca quem tem ócios imerecidos de "falso vencido da vida", meio achinelados. Que os verdadeiros "vencidos da vida" já partiram, levando todo o mérito de quem criou e deixando-nos a sua criação. Este... por cá anda, em esgares de rigor, criando uma espécie de nada, precocemente laureado por quem vive de laurear.
E do "ócio" ao "ódio" não vai apenas uma consoante que difere, vai toda uma civilização que lhe falta, ao senhor doutor.
Nunca mais falo nele. Prometo. Mas esta andava-me atravessada há muito tempo.
Já passou. Foi de o ver, sebento e ufano, num papel de parede. E o papel há-de cair, bem antes da parede que o suporta. Se Deus quiser.
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