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6.6.04

O homem do leme

Não sei quem é, lolita, não falei de tal coisa.

Pedes-me que fale sem chavões. Também não é fácil, nem é possível fazê-lo sem se ser chato, complexo e longo. Coisa que eu sei ser, mas que evito, ao menos aqui no blog.

O essencial do que eu acho disse-o nas seguintes frases:

"Em conclusão: Desconfio que o sistema de ensino, ao colocar barreiras críticas na fase em que os alunos têm entre 15 e 17 anos (altura em que a maturidade masculina é muito inferior à feminina), funciona de modo a criar o predomínio das mulheres na faculdade, com inevitáveis consequências no acesso a determinadas profissões (p.ex., 90% dos candidatos à magistratura são hoje, segundo me disseram, mulheres).
Insisto: Não me queixo. Isto pode vir a provocar "embrulhos" do ponto de vista sociológico. Mas ... as mulheres que os resolvam."

Isto tu comentaste assim:
"Para o Alonso, a questão nem se coloca porque, antes sequer de ele ter tempo de pensar no assunto, as mulheres já lá estavam..."

Por falta de comentário discordante ou concordante, não teria razões para acrescentar nada ao que já escrevi.

Mas, mesmo sem teres comentado, pedes que escreva mais, porventura diferente e melhor.

Aceito o repto e, assim sendo, acrescento o seguinte:

Que, em minha opinião, isto se resolve no espaço de uma geração. Porque os meus chavões têm sentido.

Eu explico: tradicionalmente, os rapazes cresciam num ambiente em que lhes era dito que só precisavam de se tornar sérios e responsáveis pouco tempo antes de se tornarem independentes. Já as raparigas eram educadas para a seriedade e a responsabilidade desde cedo. "Tem juízo, sê aplicada, sê responsável, casa-te virgem etc."

Neste ambiente social (e eu falo em tendências, não falo em em casos particulares tipo "conheço pequenas do sexo masculino", porque casos particulares que são o oposto do que escrevi todos conhecemos de certeza) o liceu é sempre mais acidentado para os rapazes (que se "desenrascam" do mesmo) do que para as raparigas (que estudam e, se forem simpáticas, até cedem apontamentos aos colegas).

Só que este tradicional modo de (des)educar se desadequou da realidade escolar. Impera o "numerus clausus". E assim, sem dó nem piedade, os tais rapazes ou esbarraram no insucesso escolar antes de chegarem à idade em que era suposto passarem a ser responsáveis, ou vão para "cursos de recurso".

Este é o problema. A meu ver, que se resolve no espaço de uma geração porque:

a) as raparigas começaram a ser educadas - ou a exigir sê-lo - como antes os rapazes o eram ("strips masculinos" e "futebol" foram chavões - i.e. metáforas mais ou menos hiperbolizantes - dessa maior identidade do comportamento das raparigas com o que tradicionalmente era atribuído aos rapazes);

b) os rapazes começaram a ser alertados pelos Pais (sobretudo pelas Mães) de que, ou se aplicam desde cedo, ou acabam a varrer lixo ("chavão" usado para significar trabalhos e empregos não qualificados. Tenho que explicar tudo, irra!)

Em todo o caso, e porque o actual desiquilíbrio existe - levando a meu ver uma geração a resolvê-lo - do mesmo resultará transitoriamente uma situação sociologicamente complicada (que se traduz em duas vertentes (eu disse que era preciso ser chato, mas já falta pouco):

1 - As doutorinhas e os homens do lixo - ou seja, casais muito desiguais quanto ao meio social e cultural em que se inserem e/ou se sentem à vontade. Não é normalmente muito auspicioso para projectos de vida a dois.

2 - Os homens do lixo e as doutorinhas - Os homens do lixo foram os tais rapazes que descobriram que tinham que ser responsáveis tarde demais. E que, portanto, receberam uma educação tradicional (machista, se se quiser). Para esses, vai ser insuportável que a mulher: ganhe mais; tenha mais estudos; seja mais culta; trabalhe mais; seja o suporte económico da casa.

Soluções: Não há. Só o tempo e a mudança das mentalidades.

PS - Antes que alguém diga que "para o Alonso tudo se resume a problemas de casais, esquecendo-se de que o casamento não é o único objectivo que se pode ter na vida", deixo já a minha resposta: perspectivar uma vida profissional excelente a par de uma vida familiar inexistente, má ou apenas sofrível é fácil. Difícil é vivê-la. Pensem nas vossas vidas profissionalmente satisfatórias (acho eu e espero eu) e saquem delas a vertente familiar. Com o que ficam?

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