Sombras
O que é a relatividade das coisas! Um belo hino, que eu defendi não passar disso mesmo, que recordações veio trazer ao Alonso! Algumas boas: a do hino em si, mais a do hino da ex-RDA, outro dos meus preferidos... mais nenhuma, de facto. Boas recordações, bem vistas as coisas, mais nenhuma.E não foi por nada que eu tivesse dito. Tudo isto se deve à forma como o Alonso ainda consegue ver a sombra da História, daquela particular História. Que é a recordação da História senão uma luz suspeita?
Eu, também, burro besugo, limitei-me a dizer que a História anda adormecida. Exprimi-me mal.
A História está sempre acordada, claro. Que é para a gente a não poder acusar de ser um ícone do sono.
Mas quer-se distanciamento, quando se pensa a História, quando se olha para ela com a pureza de quem a quer pensar como uma coisa una, fluida, inteligente, estúpida, evitável ou inevitável. Uma sucessão de caminhos trilhados no cavalo do tempo.
A História, vista de perto, de distância curta, deixa-se turvar pela sua própria sombra. É tão fácil: alumia-se a História com a luz que nós queremos, colocamos a fonte luminosa incidindo no "lombo" dos factos que entendemos fazer cintilar, eis ali um grande brilho (um hino qualquer...) e, evidentemente, uma não menos grande sombra. Mas atenção, é uma sombra que manipulamos. Manobrar a fonte luminosa é manipular, também, a sombra que criamos.
É preciso mais distância, uma distância de muitos invernos e verões, para que a sombra da História deixe de apoucar a silhueta que a causa. A História, para ser respeitável, para ser "definitiva", tem de ser grande e tem de ser antiga. Muito grande e antiga, a História passa a ter, apenas, a sombra que lhe persiste, como que ganha independência da luz que lhe atiçamos. Fica mais serena. E (isto é como as mulheres, Alonso), a História serena permite-se conhecimentos de excepção. Daqui por muito tempo, vai ser só lê-la. Que bonita pode ser a luz directa do distanciamento! Não vai ser para nós, fica para os nossos netos. Mas é preciso ensinar-lhes isto, a respeitar o tempo, Deus nos conserve.
Entretanto, enquanto esperamos a nossa inevitável ausência do futuro, vamos ouvindo os hinos que gostamos.
Um abraço.
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