Não há mentiras pequenas
Um senhor farmacêutico, amigo do Vilacondense, chamou-me parolo e nabo. Afirmou que existe uma organizacão de âmbito corporativo na blogosfera formada pelos médicos blogueiros (citou outros), que logo terão cerrado fileiras e refilado contra uma coisa fantástica que ele, boticário, escrevera e que, pelos vistos, considera inatacável e digna do maior respeitinho. A extraordinária criatura insinua, ainda, que eu não receito genéricos. Mais grave do que isto, o estimável senhor estabelece mais um postulado brilhante: eu sou um potencial e execrável vendido à indústria farmacêutica e, em vez de vos contar que 15 anos de prática clínica me ensinaram que Lasix é bom e os outros nem tanto, deveria era fazer um ensaio clínico que o provasse. Insinuando, mais uma vez, que teria excelente patrocínio duma multinacional que ele refere, que me pagaria não sei que benesses por eu ser assim franzino da dignidade. Esquecendo-se que, enquanto eu e os meus colegas pudermos prescrever Lasix sem que nos alterem a prescrição nas boticas (mesmo nas hospitalares), estamos descansados; e que, depois, veremos. Deitando às urtigas que o óbvio exemplo do Lasix era, apenas, uma boutade. Que só ganhava pertinência na tendência generalizadora (e não genérica) do postulado do interposto farmacêutico, que, já agora, vos mostro:Não há que ter medo Sr. Ministro!
É fácil, eu explico:
O Infarmed garante a qualidade de todos os medicamentos,
O Médico prescreve o princípio activo,
O Farmacêutico disponibiliza as várias opções,
O Doente escolhe.
O vilacondense, ao menos, só me chamou gágá e receitou-me um placebo para me tratar. Já lhe ofereci uma bicicleta, um tandem (e não duas, ó gulosos, assim mãos largas convosco são os Mata-mouros, é logo aos pares!). E ficámos cada um na sua razão, julgo eu. Cuido que cada um crendo na boa fé (e na ironia) do outro e na bondade dos argumentos de cada um. Eu não tenho é culpa que o vilacondense se arvore em vitorioso juiz das discussões em que entra. Isso é lá com ele, tem este feitio folgazão e uma auto-estima que não cabe no Estádio dos Arcos, que eu aceito e não me ofende.
"Nabo, parolo, corporativo e corrupto" é mais forte. Nabo e parolo, é como o outro. Eu até já citei o Eça e admiti que posso ser visto como "pilriteiro que só dá pilritos". Mesmo que isto seja visto lá do fundo de qualquer botica, admito que seja notório.
Agora corporativo e corrupto, senhor farmacêutico? Não sou, não senhor. Eu fui ler o seu blogue e, lá porque o senhor confessa que se empiteira às vezes, com os amigos, não tirei daí nenhuma conclusão geral, definitiva e pesporrenta, sobre a sua lucidez habitual. E é por lhe atribuir clarividência e responsabilidade nas suas afirmações que lhe repito: não sou corrupto nem "corporativista". E concluo, baseado nisto, que o senhor é, pelo menos às vezes, mentiroso.
E, retomando Eça, a menos que se desdiga, considere-se portador de virtuais bengaladas nesse boticário lombo.
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