A chicla entranhada
Saí do carro e fechei-o. Com a chave do carro na mão e uma chicla de mentol na boca preparei-me mentalmente para a deitar - à chicla - no primeiro caixote do lixo que encontrasse. E ele ali estava, próximo. Sempre de chave na mão e chicla na boca, abeirei-me dele. É a chicla que devo deitar fora, pensava. Porém, assim que atingi a proximidade suficiente mantive a chicla na boca e deitei fora a chave. Raios. Mas há sempre uma primeira vez para tudo, enfim. Respirei fundo e enfiei o braço todo dentro do caixote. Escarafunchei-o, com a mão, usando o tacto (e involuntariamente o olfacto, já que a visão voluntariamente afastei, essa consegui) para descobrir a chave de entre outros inomináveis objectos. Os húmidos é que arrepiam, garanto; os secos até são suportáveis. Encontrei-a, à chave. Enquanto, há uma hora atrás, me purificava no duche, reflecti sobre este insólito evento e tirei duas conclusões: a primeira, a de que tenho de tratar de saber porque é que fui traída pelos meus próprios reflexos. A segunda, eventualmente consequência da primeira, é que não quero voltar a pensar em deitar fora uma chicla de mentol.
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