Pequena crónica de besugo (iniciado de primeira semana)
A praia estava boa e, desde ontem, comecei-a cedo. Gosto assim.
Já encontrei o meu ritmo, depois de meia dúzia de dias à deriva. Espero que se mantenha a nortada, até porque, sem ela, a Póvoa não enrijece as carnes. Nem enrijece nada.
O Bar da Praia, aqui à esquerda, é um lugar simpático para o café da manhã e, depois, ao almoço, para uns petiscos. Podia ter mais petiscos, valha a verdade. A bem dizer, não tem nenhuns. Tem o trivial. Podiam pensar nisso.
Já decorei o sítio dos penedos, de maneira que já sei onde se pode andar à bulha com as ondas, de tarde, sem arriscar traumatismos da cabeça.
Depois de ter levado comigo, para o areal ainda frio e molhado das marés vivas e do cacimbo da véspera, sucessivamente, Luís Sepúlveda e Woody Allen, hoje, já com nortada que me parece firme, comecei Steiner.
Quando digo que comecei Steiner quero dizer isso mesmo: comecei-o eu. E quando afirmo que o comecei apenas hoje também é exacatamente isso que quero afirmar: "apenas" hoje, já com nortada. E não antes.
E comecei-o logo pelo fim, pelos livros que nunca escreveu, os tais que marcham paralelamente aos já escritos, fazendo-lhes hipotética e probabilíssima sombra, dependendo do sol (sendo de dia).
No primeiro "livro", muitas citações, por interposta e leonina pessoa: Needham. Até Max Planck e Goethe ali convivem, na viagem pela cabeça do Joseph, passando por Santa Teresa, Juliana de Norwich e - pasme-se - Santillana. Estranhei a referência ao antigo ponta-de-lança do Real Madrid, mas depois passou-me. Refiro aqui a estranheza apenas para ver se recebo algum e-mail pedagógico a explicar-me que há mais Santillanas que Cristianos Ronaldos e a chamar-me, por exemplo, "elemento básico duma cáfila".
Há contudo, por entre o fio acessório das citações - completamente acessório, aliás -, um discurso fluido e cristalino. Steiner é, realmente, acessível a quem o lê de boa fé. É, aliás, acessível a quem, depois de lê-lo assim, reflecte e desata a extrapolar (ou, mesmo, a disparatar) sobre o que ele escreve: não encaixa dificilmente no que já está dentro da cabeça antes de o termos começado, nem escavaca brutalmente, fracturantemente, nenhuma das construções mentais que já lá tínhamos. Isto é bom, nem eu nem ele esperávamos, seguramente, um do outro, o contrário.
Depois de ter levado comigo, para o areal ainda frio e molhado das marés vivas e do cacimbo da véspera, sucessivamente, Luís Sepúlveda e Woody Allen, hoje, já com nortada que me parece firme, comecei Steiner.
Quando digo que comecei Steiner quero dizer isso mesmo: comecei-o eu. E quando afirmo que o comecei apenas hoje também é exacatamente isso que quero afirmar: "apenas" hoje, já com nortada. E não antes.
E comecei-o logo pelo fim, pelos livros que nunca escreveu, os tais que marcham paralelamente aos já escritos, fazendo-lhes hipotética e probabilíssima sombra, dependendo do sol (sendo de dia).
No primeiro "livro", muitas citações, por interposta e leonina pessoa: Needham. Até Max Planck e Goethe ali convivem, na viagem pela cabeça do Joseph, passando por Santa Teresa, Juliana de Norwich e - pasme-se - Santillana. Estranhei a referência ao antigo ponta-de-lança do Real Madrid, mas depois passou-me. Refiro aqui a estranheza apenas para ver se recebo algum e-mail pedagógico a explicar-me que há mais Santillanas que Cristianos Ronaldos e a chamar-me, por exemplo, "elemento básico duma cáfila".
Há contudo, por entre o fio acessório das citações - completamente acessório, aliás -, um discurso fluido e cristalino. Steiner é, realmente, acessível a quem o lê de boa fé. É, aliás, acessível a quem, depois de lê-lo assim, reflecte e desata a extrapolar (ou, mesmo, a disparatar) sobre o que ele escreve: não encaixa dificilmente no que já está dentro da cabeça antes de o termos começado, nem escavaca brutalmente, fracturantemente, nenhuma das construções mentais que já lá tínhamos. Isto é bom, nem eu nem ele esperávamos, seguramente, um do outro, o contrário.
Percebo, contudo, neste Steiner começado apenas hoje - e logo pelo fim (penso que ficou claro que nada tinha lido, de Steiner, até hoje, senão alguns excertos escolhidos por outrem, e não se trata aqui de admitir isto contritamente, sequer, não admito humildades que não sinto, é que nunca me deu para aí, nem sentia, até estas férias, nenhuma vontade especial de "que me desse") - uma dificuldade suplementar, eventualmente aflitiva para "não leigos". Refiro-me às citações, sobretudo. Posso tentar explicar assim: se, para um iniciado, o discurso de Steiner é ágil e facilmente penetrável, mesmo que não se esteja a ver muito bem quem é, por exemplo, Juliana de Norwich, ou Haldane, ou, mesmo, Lysenko (que, pelos vistos, se interessou pela biologia vegetal duma forma praticamente assassina de tão demencial, ou vice-versa), já para quem tem de ler Steiner para o ensinar depois, embora queira lê-lo mesmo, independentemente de ter de o ensinar depois, mas, lá está, acaba por ter de o ler assim - eu, a isto, chamaria "sobreleitura angustiada pelo objectivo secundário dela" - deve ser um relativo suplício.
Reconheço que, se quisesse, ou se pudesse, ou, melhor ainda, se tivesse de o ler assim, não o leria. Ficaria por aqui, pela página 30, farto de consultar o google sobre as muletas de Steiner, encalhado no Lysenko.
Não se lê Steiner assim? É claro que se lê.
Entretanto, tudo isto me distraiu de coisas essenciais. Começando, uma vez mais, pelo fim, o Sporting já começou a ser vítima da onda de furtos que anima o país. Não tendo fixado o nome do bandeirinha que marcou o golo do Trofense, memorizei-lhe a fronha e vou manter-me atento ao seu percurso: para ver se lhe indico um oftalmologista ou se o apelido, definitivamente, de patife.
Prosseguindo, agora e sempre ao acaso, afloro os Jogos Olímpicos - mas, neste momento, apenas para apoiar sem reservas a escolha de Londres para os próximos, derivado ao facto de estar farto de ver, em directo, sobretudo - e quase só - canoagem e saltos para a água (vá lá, o atletismo teve bom horário; mas o andebol, por exemplo, valha-nos Deus). Os Jogos Olímpicos deviam ser, sempre, em países que regulassem bem dos relógios. Sim, mesmo a Suíça, podia ser.
O acidente no aeroporto de Madrid pregou-me um susto duplo. Um, o maior, deveu-se à minha ignorância geográfica: confundi as Canárias com as Baleares e só sosseguei depois de me gastar em mapas. O segundo, menor mas mais duradouro, atribuo-o à minha incapacidade inata para o optimismo, mesmo ciente dessa espécie de empirismo estatístico que ensina que - isto mal comparado - nunca caem duas bombas (nem dois raios) no mesmo lugar; ou que a probabilidade de isso acontecer é muito pequena.
Morreu aqui, no mar, um miúdo. Foi muito triste. Apareceu-lhe o corpo já depois da meia-noite, nos penedos. Muito triste.
Da Volta falo amanhã, ou depois. Mas já tivemos, recentemente, uma pequena amostra do carácter do famigerado e azeiteiro "Càundido". Anda, agora, escondido no Benfica. Ontem não resistiu: foi, uma vez mais, igual a ele próprio. Excrementário. Há quem diga que se trata dum homem com um baixo limiar para "os nervos", um mero e meritório exemplar de "tuga" com o coração ao pé da boca.
Penso que indivíduos assim, com esta anatomia particular, correm o risco de terem sempre um naco de vitela (ou meia dúzia de sardinhas) na circulação - e isto, evidentemente, com avultada possibilidade de embolia - e, também, de vomitarem sangue "podre", porque misturado com os mais variados produtos duma digestão mal feita: mal começada, pior acabada, a digestão.
Gostava de saber como é que se entuba um tipo destes, em caso de necessidade, mas sugiro que se lhe aplique, de preferência e sempre, em caso de dúvida, o colonoscópio. A um tipo destes e ao bandeirinha do Baptista, que eu não me esqueci dessa alheira.
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