Até se acabar o sumo
A tendência para espremer tudo faz de nós, portugueses, uns espremedores.Esprememos tudo demais.
Espremer é uma coisa que se faz sentado, deve ser por isso que tendemos tanto para a espremedela. Para a "discussão das discussões".
Não me parece vantajoso espremer tanto as coisas. As coisas são uma espécie de citrinos que, espremidas de mais, só dão caroço. Ou pevides.
Dois exemplos? Muito bem.
1 - As faltas dos deputados
Anda quase toda a gente às voltas a dizer o mesmo: é inaceitável, mas, por outro lado, alto lá!, é preciso ver que... mas é inaceitável, isso sem dúvida, que fique claro, porém, reparem....
Bom. A Ana Drago diz o mesmo mas coloca a tónica todinha no inaceitável. Vai dar no mesmo, é um porém mais pequenino, ela também é mais pequenina e (provavelmente) nem faltou nesse dia, de maneira que está ali à vontade. Pensa ela, porque não está. Ah! E temos o povo, que se diverte com isto. Quantos portugueses regressados da pontezinha não terão dito que "lá estão os gajos, topaste, Manel?, são como a gente!, cambada!". Chama-se a isto dar um tiro no pé por interposto tiro no pé.
Os portugueses são pides. Somos pides potenciais, a sério. De nós e dos outros.
A questão é esta: pode aquilo que ficou por fazer nesse dia ser recuperado? Podem os senhores deputados compensar, em horas futuras, o que deixaram de realizar naquele dia fatídico? Podem? Então que o façam. Por mim, que não tenho para deputados expectativas maiores do que as que tenho para qualquer cidadão, é isto que espero deles. Não quero que lá estejam todos os dias, não me interessa que façam pontes, não quero saber das suas justificações: quero que, no fim duma legislatura, fique feito tudo (ou quase tudo) o que era suposto eles fazerem. Não sou fanático dos horários, sou fervoroso adepto da realização do trabalho dentro dos prazos e bem feito. Quero lá saber se os tipos, depois, fazem em dez dias o que era para fazer em quinze, desde que fique (bem, de preferência, mas olhando para algumas caras... enfim, isto seria outra conversa) feito?
2 - A questão das velas acesas pelos judeus mortos
Pareceu-me um acto simbólico, proposto por quem entendeu propô-lo.
Foram questionadas intenções, que geraram fornecimento de explicações relativamente apaixonadas que, por sua vez, desencadearam mais dúvidas candentes, houve amuos. Como se o tema fosse muito grande. Não é.
Não me parece elitista, nem sequer "fracturante", acender velas seja pelo que for, seja por quem for. Nem, mesmo, vestirmo-nos de branco, por Timor, como aqui há uns anos se propôs, ou de azul às riscas por outra causa qualquer.
Parece-me um bocado "de espremedor" esta coisa de discutir tudo até ficarmos com as cascas de tudo na mão, tão desprovidas de sumo que já nem para fazer compotas as cascas (de tão espremidas) servem.
Eu, por filosofia simples, acendo velas se me falta a luz. Admito que os outros façam o mesmo e permito-me pensar que, quem não as quer acender, não o fará por outro motivo que não seja ter, naquele momento em que se lhe pede lume no pavio, claridade já suficiente.
Há coisas que, para mim, bondam assim. Há outras que já não. Mas é problema meu, virtude ou defeito de besugo.
Caixinha de comentários não tenho, peço desculpa, isto aqui é o trivial.
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