A única coisa que eu gostava que retivessem da lição de hoje (sim, é contigo, Pilar!)
O problema do filme do Mel Gibson, para mim, neste preciso momento, reside no facto de eu estar a escutar aquela música dos Bee Gees, o "How deep is your throat", enquanto escrevo isto.Os meus filhos disseram que queriam ver o filme, na sexta feira, mas eu não vou deixar.
Prefiro que eles continuem a pensar que os maus bateram um bocadito em Cristo e que, depois, tudo se passou duma maneira muito sofrida, claro, isso sim, mas que as pessoas hesitavam, ali, entre dar-lhe uma lançada na ilharga, chegar-lhe vinagre à boca e, atenção que isto é mesmo assim, "tirá-lo dali, ele é que não queria nem por nada, e por isso ficou ali e morreu!". E que havia música - e coisas mais ou menos cósmicas - ali à volta.
Não me parece conveniente que fiquem a saber que fizeram a Cristo, mais ou menos, o que fizeram os tipos de Quebradas ao débil mental, o que fizeram os skins ao cabo-verdiano, os tipos do Congo aos belgas que caçaram, os palestinianos ao piloto israelita que caiu desamparado, os gajos da Libéria ao presidente que lá tinham, os irlandeses católicos aos dois polícias ingleses que apanharam, no funeral de 1988.
Essa coisa toda de linchar um homem é sempre igual. Seja ali abandonado, sozinho, ou com a mãe (e a namorada e os amigos) a assistir.
Essa perfídia de transformar, lentamente, um homem numa papa exposta de sangue e medo, é sempre igual e não serve para nada.
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