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11.4.06

Variações sobre biqueiros

E aqui estou eu, em tempo, para falar do Sporting-Porto.

Não me lembro do nome do árbitro, mas lembro-me da fisionomia, de polícia de esquadra. Interventivo, ciente do dever "et por cause" e empenhado em manter a lei e a ordem. Em suma: o executor perfeito das medidas estratégicas para a erradicação da sarrafada no futebol. Não sei se por timbre individual ou por ordem superior, mas o certo é que distribuiu amarelos em abundância e de forma paritária.

Há, pelo menos, dois tipos de sarrafada futebolística: a sarrafada instrumental e a sarrafada gratuita. A sarrafada instrumental é uma inevitabilidade, em situações de crise. Quase consubstancia a figura jurídica da acção directa: o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito. Será, neste contexto, aceitável que um defesa cioso mande uma boa biqueirada a um extremo teimoso que desata a correr com a bola, em velocidade de cruzeiro, a caminho do golo. É assim que o mister ensina e é para isto que lhe pagam (ou pelo menos foi assim que ele percebeu). Inversamente, a sarrafada gratuita não serve para coisa nenhuma. Cansa, chateia. Quando demasiado recorrente, sobrepõe-se ao jogo, que acaba por ser uma modalidade inovadora, situada algures entre o wrestling e o bowling. De sarrafada em sarrafada, caiem como tordos. De forma fraterna, que é como quem diz "agora cais tu e depois hei-de cair eu".

Como está bom de ver, à sarrafada gratuita responde-se com muitos amarelos, punitivos e moralizadores amarelos. Eles aprendem devagar, mas aprendem, mais tarde ou mais cedo, que os seus mimosos (e, aliás, viris) pézinhos são comandados pela cabeça, que é aquela parte do corpo onde costumam colocar piercings.

Para contrapor tudo isto, hão-de dizer que o futebol é um jogo para homens. E que lá fora joga-se assim, e que é por estas e outras que os árbitros portugueses não são convocados pela FIFA. E, até, imagine-se, que eu vejo pouco futebol. Imagine-se.

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