Se tivesse visto seria mais útil, mas a mim serve-me assim.
Hoje debateu-se o futuro da Europa, parece que a fundo, na Casa do Artista.Retive pouca coisa, que sou pouco dado a retenções: só as que me fazem "na fonte".
A sério, não esperem nada de mim. Não, a sério.
Esta notícia que aqui dou do sucedido, aliás, destina-se apenas a quem nem sequer sabia que o debate ocorreu. Ocorreu mesmo. Quem assistiu e esteve atento, faça favor de parar de ler. Para não termos de nos chatear. Obrigado.
Agora que fiquei sozinho, estou à vontade.
Estavam lá, num palco defronte de cerca de 500 pessoas (ou menos), a apresentadora do costume, um cardeal com um sotaque misto entre o beirão e o romano, que é aquele padre que diz quem é santo e quem (ainda) não é, o João César das Neves, a Fátima Bonifácio e o António Barreto.
O António Barreto, qualquer dia, tem de pôr gel nas sobrancelhas: praticamente, aquilo já toca nas pálpebras inferiores. Não quer constiuição europeia, nem eu, ora, e reafirmou-se séptico. Eu percebi séptico. Era céptico? Bom, não acedi ao teletexto...
A Fátima Bonifácio começou bem, até se atreveu a proferir, em 2006, aqui, neste cantinho da barrosiana Europa (que, agora, de acordo com alguns euro-deputados portugueses - e alguns outros euro-deputados que também gostam de copos-, deve lisbonizar-se, não é?), que "qualquer dia acordamos e já não nos parece que estamos na Europa", o que nem sequer é original - o MEC escreveu uma vez, em tempos, que um tipo que fosse a Londres para ver nativos se arriscava a regressar com a impressão que os ingleses andam todos de turbante - mas estava bem visto e era simples -, mas agachou-se logo, a Fátima, "que não era bem isso que queria dizer", porque o António Barreto pressentiu que ela ia por mau caminho e pô-la logo no trilho ("olhe lá, ó Fátima, já viu a quantidade de monhés que estão a olhar para si com cara de quem a quer empalar, ali na assistência"?).
O cardeal esteve bem. Dentro do género "eu não mudo esta expressão facial a menos que me fustiguem". Percebeu-se que o perturba aquela coisa de a constituição europeia não consagrar, nos princípios fundamentais, que a Europa é judaico-cristã "porque a História existe". Foi lá, basicamente, dizer isto e, a seguir, concordar com os ateus que lá estavam, desde que os ateus admitissem (e admitiram) que o ateísmo europeu e o judaico-cristianismo europeu são mais ou menos a mesma coisa europeia: há ali, segundo eles, apenas uma questão de birra de nomenclatura em torno duma elevação comum, e pode continuar a jantar-se bem depois destes debates, na mesma.
O João César das Neves tem um problema, que é a testa baixa. Nota-se que lê muito e que absorve os pensamentos que quer de maneira elogiável e competente. Mas não me lembro de quase nada do que disse, embora eu tenha uma testa alta. O problema de saber se ter testa alta ou baixa é importante, bom, é um problema que deixo aos meus netos.
Devo absorver menos, no entanto. Proclamo, daqui, que as pessoas de testa alta absorvem menos. Donde, presumo, podem revelar-se menos úteis para usar como esfregona. Boa, João!
Bom. Parece que, apesar de tudo, ainda há Europa. Essa Europa antiga. Para já, parece que ainda podemos dizer que há "A Europa", entendida (de forma básica) como um "muito menos que tudo económico", embora quase toda com moeda única (acho que é a octana).
E ainda se pode dizer isto: que os italianos são um bando de panascas feios com fama de garanhões bonitos, essa fama toda feita por portugueses e líbios, que gostam de passar por italianos, não se sabe bem porquê; os gregos, enfim, é basicamente azeitonas e queijos e, concedo, ilhas fixes... para quem consegue lá ir com a gaja que gosta, o que é raro; e que os espanhóis são malcriados mas baixam a bola sempre que lhes arregalamos os olhos (tenho experiência disso, li a história de Portugal dos Pequeninos e a minha Mãe era professora primária); que os franceses têm quase todos qualquer coisa de cabeleireiros; que os ingleses são o povo mais feio do mundo (melhoraram, é verdade, quando apareceram os tipos de turbante); e que os eslavos são para o que nasceram, penso mesmo que a palavra "eslavo" é uma derivação tristemente adaptada por espanhóis do anglo-saxónico "slave".
Ah! E que ainda não vamos, todos em conjunto, com José Barroso (com a máscara do velho Jacques) empunhando um estandarte híbrido, jogar o Mundial da Bola. Quando não, o sacana do europeu Sven Goran Ericksson - ia ser este tipo o seleccionador europeu, duvidam disto?- ainda se atrevia a pôr a titular o Beckham, em lugar do Ronaldo. Ou o Lampard, em lugar do Totti.
A Europa é muito mais que isto? Claro que é.
Mas não me fodam, não a deitem num sofá, toda encolhida (debaixo dum edredão fatela e colorido demais) a dormir o seu sono descansado "entre guerras", enquanto a debatem, fingindo ser ela, a Europa, a falar durante o sono, que se debate.
Era o que nos faltava: a Europa, agora, a fazer psicanálise! Pela mão pia dum padre, sob o olhar "complicadote" dum gajo de sobrancelhas adubadas, às directrizes duma tipa que, se diz duas coisas, a segunda é para atenuar a primeira... ah! e a beber fel duma esponja avinagrada que gostava de ser Cristo, desde que fosse sem aquelas complicações de pregos, cruzes e chicote.
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