blog caliente.

11.12.05

A lista de Xindla

O Alonso nem precisou de telefonema para aderir. Eu ia telefonar-lhe só amanhã, para não o incomodar no remanso do fim-de-semana. Ainda bem.

Verifica-se que existe, neste blog, alguma unanimidade relativa: Cavaco esteve mal.
Há um blog que acha que esteve bem, que é o oficial, depois há mais alguns que dizem mais ou menos o mesmo que diz Luís Delgado ("andem praí, digam o que quiserem, que isto já está no papo" - o que é confrangedor, mas os portugueses, à falta de naus, tendem a chapinhar junto às bordas) e há, ainda, exactamente, há ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

Esse deu dezasseis valores a cada um, o que denota duas coisas:

1 - MRS deve ser daquele tipo de indivíduos que, mesmo desde a juventude tenra e magra, deve ter dado pontuações às namoradas e mantido uma lista delas - num moleskine adaptado - ordenada por habilidades. Não sei, é uma coisa que se consegue imaginar, ele a mostrar aos amigos, "a Rute é tão fresca que até penso nela como a Rutinha, dou-lhe vinte seguidas, tás a ver? pois, nem eu, hehehe; já a Cacilda é um bocadinho insossa, dou-lhe dezasseis na vida inteira, mas só se for obrigatório...ihihih" . Não sei se é assim, não é seguramente, mas eu consigo imaginá-lo nessas tertúlias; já, por exemplo, António Vitorino não. Mas isto não é, necessariamente, um elogio a António Vitorino. Enfim.

2 - MRS vê debates consoante lê livros. Os que lhe interessam, vê e lê muito bem. Os que tem de despachar, faz-lhes pontaria com a caçadeira de canos serrados que lá tem. E, na dúvida, num tiro com essa amplitude de dispersão plúmbea, Cavaco nunca perde.
O que está perfeitamente correcto. É público que MRS apoia Cavaco. E nós temos, neste preciso momento, uma democracia tão consolidada e madura que já se pode, sem correr qualquer risco para a nossa tão alicerçada democracia, ter um apoiante duma das candidaturas, em horário nobre, na televisão pública, a debitar esse apoio de forma "praticamente neutra, análise pura".

Eu, por acaso, acho isso inocente e bom. Eu conheço o meu povo e sei que é tudo menos influenciável. Não, não é nada dado a deixar-se ofuscar por pensadores/formatadores de verbo fácil. Mesmo por se tratar dum povo intelectualmente autónomo, paridor de pensamento, em lugar de tender a embeber-se no dos outros. Basta ser um povo que tem telemóveis em barda, caramba!
Não, estou mesmo feliz.
A seguir quero que MRS venha aqui a casa roubar-me o pinheirinho de Natal para oferecer à Ana Sousa Dias. É um pulo de raciocínio muito grande? Pois é, é mesmo um pulo de coiote!

Quanto ao raciocínio jurídico-constitucional que Cavaco podia ter desenvolvido, em relação ao casamento de homossexuais e à sua capacidade de adopção, não discuto essa vertente. Não sou jurista, para começar. Mas refiro-me, levemente, como compete aos leigos menos dotados, à hipótese b) que o Alonso lá põe.

Bom. Embora pense que as crianças, além do direito constitucional a possuirem um pai e uma mãe de sexos opostos - eu não sabia que o texto constitucional era assim tão claro nestas questões de alguma inevitabilidade biológica, mas pronto - têm, também, direito (como todos os cidadãos) a um lar, a alguma educação, a algum dinheiro para o bolso, a um cartão de sócio do Sporting, a algum afecto, enfim, a essas coisas pequenas, e como me parece que essas "coisas pequenas" - isto é discutível, eu sei - talvez sejam mais fáceis de conseguir, para as crianças, num lar de "dois pais" ou "duas mães" do que num asilo, ou num orfanato, ou na rua, sem pai nenhum, sem mãe nenhuma, eu atrevo-me a propor que, talvez, e desculpem a frase tão grande, mas é para não se perceber bem o que eu estou a dizer, até porque eu sei que, mesmo em versão curta, se não percebe quase nada do que digo, dizia eu que me atrevia a propor que, talvez, Cavaco pudesse ter respondido doutra forma sem perder eleitorado.

Como é que fazia? Reparei agora que a lolita já falou no assunto, mas pronto, eu repito: dizia que um PR deve debruçar-se sobre todos os temas nacionais, mesmo estes que são "tabu" para 80% da sua base eleitoral de apoio e, depois de neles reflectir, porque são muito importantes... fazia como diz que fará se lhe chegar uma lei que liberalize os despedimentos: mandava tudo para o Tribunal Constitucional!

Aqui, Cavaco esteve igual a si próprio. Pelo menos, com ele, a partir do momento em que alape a magra peidola na presidencial poltrona, quem trabalhar por conta de outrem e tiver alguma estabilidade no seu vínculo laboral, está pior do que o que estava: dantes, o professor de economia preconizava que se lhes esperasse pelo óbito para se lhes varrerem os restos para a cova; agora, talvez não seja preciso tanto: ele chuta, imediatamente, para cima - um "charuto" - e tudo passará a depender da revisão que se fizer, entretanto, ao texto constitucional.

Eu proponho, desde já, este pequeno texto; parágrafo único:

"Qualquer patrão, com o poder que Deus (pode ser um dos quatro ou cinco Deuses com mais filiados, à escolha, que há liberdade de religião neste País, desde que os outros três ou quatro não chateiem muito) lhe conferiu por ser quem é, filho de quem é, neto de quem foi e bisneto de quem poucos já se lembram - mas respeito!, e, também, por ser dono de dinheiro, de pilim bastante, dizia eu, portanto, enquanto legislador, que qualquer patrão passa a poder, em lhe dando na veneta, colocar no olho da rua qualquer trabalhador que tenha contratado, mandando às malvas os termos do contrato, porque deixou de lhe convir esse contrato (e, por maioria de razão, o contratado) a ele, patrão, e à família. E que isto seja válido, também e sobretudo, no sector público, onde grassa uma cambada de filhos só da mãe, conforme é sabido por todos, até por eles, essa corja de bastardos".


Admira-me o Alonso não se ter referido a isto, mas também me parece que foi na primeira parte, logo a fechar, foi a parte que eu vi, ele não...
Ó Alonso, parece-te bem o meu textozeco, assim do ponto de vista jurídico-constitucional "adaptado"?
Já sei, nem respondas.

View blog authority