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11.12.05

Tomando a parte pelo todo

O bocadinho de debate Cavaco - Louçã que o Alonso conseguiu ver permitiu-lhe, ainda assim, várias reflexões sobre o tema. De todas, destaco duas:

- É abusivo, parece-me, afirmar-se que Louçã defende a sustentabilidade da segurança social através do aumento dos impostos. É abusivo e absurdo, aliás. Sob todos os pontos de vista. Entendamo-nos: Louçã colocou, durante o debate, vários dedos na ferida, e este é um deles. Afirmou que a solidariedade social deve ser responsabilidade de todos os que auferem rendimentos (incluindo os rendimentos de trabalho - do eleitorado maior do BE), que deverão contribuir para o pagamento das prestações sociais de quem não tem rendimentos (por razões de miséria social ou em consequência da idade). E disse, também, que para que isso aconteça, é preciso que se aumente a produtividade da economia - o que não se confunde com a fórmula, gasta e enviesada, do "aumento da competitividade das empresas" da cartilha cavaquista -, para que aumentem os rendimentos da população activa e, consequentemente, o bem estar social. Com isso, não defendeu o aumento dos impostos, mas antes o aumento dos rendimentos, do qual decorreria, evidentemente, um aumento da receita fiscal. Foi a esse propósito que falou, ainda, da garantia constitucional da proibição dos despedimentos. Tema a que Cavaco Silva, aliás, instado a responder sobre uma hipotética lei de liberalização dos despedimentos que tivesse de promulgar, nos deslumbrou com a certeza de que, em questões difíceis e "fracturantes", tratará sempre de saber a quem pode passar a batata quente - que, nesta questão, passaria ao Tribunal Constitucional.

- Tenho de reconhecer que concordo com o elaborado raciocínio táctico do Alonso acerca da não-resposta de Cavaco Silva sobre o casamento e a adopção por homossexuais. Qualquer resposta seria, de facto, mortífera para Cavaco Silva. Seria, aliás, hilariante: o homem que quase nunca responde a coisa nenhuma e que, quando responde, se limita a uma justaposição das frases do manifesto eleitoral, a responder sobre um tema tão polémico, em que qualquer resposta o encostaria à parede. Eu aposto que era dessa que desistia desta aventura.
Impressiona-me, no entanto, o pragmatismo, algo cínico, do Alonso, quando diz achar que ele fez bem em não responder. Presumo eu, para salvaguarda dos altos interesses da candidatura. Para fins subversivos. Enfim, para enganar os tolos.
Para mim, a mais fundamental ilação que se retira daquela não-resposta é a de que, não respondendo, respondeu. Refugiando-se em pretextos patetas, em nome desse respeitável designio, esse de não perder votos. Ora, isto só não vê quem não quer. Ou quem votar por disciplina partidária. Ou, ainda, quem acha que estas fugas estratégicas de quinta categoria são a forma mais eficaz de fazer política. Se, na política, perdermos de vista a ética e se acharmos que é legítimo defraudar, enganar, esconder ou omitir para cumprir as boas práticas, então, Alonso, estará tudo perdido. Andamos todos longe da perfeição mas acredito que, de entre todos, ainda há quem insista em não fazer do que está torto uma regra universal.

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