Ah, isso desculpe, é no guichet nove... já lá vou.
Hoje tive três telefonemas.Num, era um homem a dizer-me que a mulher ia faltar à consulta porque tinha morrido.
Noutro, era um casal (falava mais ela, devia ser ela que empunhava o aparelho) que se queixava que a quimioterapia, no fim de contas, é "uma porcaria dumas drogas que já estou cheia disso e não vou mais aí, era só para lhe dizer isto, adeus!".
No último, era um homem que me disse que agora mora em Leça, mas que vem visitar-me brevemente, porque está curado e me quer ver, porque fui eu que o curei, há oito anos. Pensei que o tivesse curado dum cancro, não me lembrava bem dele. Mas não, tinha sido duma pneumonia. Que viesse.
Três telefonemas de pessoas cobertas de razão, todas elas bonitas e interessantes, nenhuma delas profundamente independente. Pelo menos naquele momento de ligar pareceram-me bastamente dependentes, todas elas. Deve ser da emoção, não sei. Há-de ser dessa perfídia da parcialidade, que se constitui, hoje em dia, no oitavo pecado mortal.
Pelo menos no primeiro caso foi: mortal e um pecado. Prometemo-nos um abraço e um café, para quando o Sousa estiver mais refeito da nossa perda comum. Que eu, a bem dizer, é sempre comigo; mas também admito, desta vez imparcialmente, que ainda não foi bem comigo, de facto.
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