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14.6.05

Pequenos Vagabundos

Toda a gente sabe que morreram, no espaço curto de um fim-de-semana prolongado, três homens marcantes. E marcados. Como se se pudesse ser marcante doutra forma, não é?

Morreu mais gente, entretanto. A Luísa, cujos pais vão chorar eternamente. O Adolfo, cujos filhos guardarão as cinzas, num relicário.
Mas há quem morra para toda a gente. Geralmente porque viveu para toda a gente e por toda a gente. Eu sei, poupem-me, eu sei, isto é redutor. Mas menos que algumas "purgas" aleivosas que li por aí. Feitios.

Não se vive para ninguém, nem por ninguém. Morre-se quando tem de se morrer e nem sempre é espectacular.
Mas há pessoas que, ao menos, mesmo tendo vivido juntas parte do seu tempo, podiam morrer separadas. Para a gente poder sofrer as perdas uma a uma, sem misturar lágrimas.

Claro que há quem não misture nada. Muito menos se a mistura puder parecer "coisa de simples".

E saem coisas destas, dignas dum Jardim qualquer: "Eu, sobre isso, sou coerente: não gostava dele, continuo a não gostar". Isto é gastar em vão uma das mais importantes dimensões do homem: a coerência.
A coerência não se gasta assim. A hora da morte é tempo de parcialidades, de alegrias ou tristezas. Não é tempo de indiferenças, de equidistâncias. Nunca é tempo disso, aliás, se querem que vos diga.

Mas também há aquela história da rã (ou do sapo) que queria ser boi. Ainda hoje se chora, em alguns charcos, essa rã. Ou esse sapo. Mas em muito poucos.
Chorar em charcos é como rir em soalhos de teca: ecoam sempre pouco, ecoam de menos, sejam choros, sejam risos. Deve ser, apenas, uma questão de acústica.

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