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28.6.05

O défice avulso

E se os doentes que recorrem às consultas e aos serviços de urgência hospitalares fossem obrigados a aviar as suas receitas, onde a prescrição médica seria obrigatoriamente feita por princípio activo, na farmácia do hospital que os serviu? Que teria genéricos e medicamentos de marca (pelo menor preço), afiançados pelo Infarmed, claro. Isso atentaria contra a liberdade? Não atentaria nada. Atentaria contra a liberdade do mercado, quando muito, esse bicho que agora clama auto-regular-se e regular-nos. Como se uma regulação fosse mais legítima que a outra, sobretudo em questões deste jaez, pouco "numéricas" na sua essência.

O certo é que se gastaria menos e, quem não gostasse do sistema poderia, sempre, ir a clínicas ou consultórios privados. Onde seriam feitas prescrições conforme fosse entendido pelo médico e pelo doente, que seriam aviadas onde o doente bem entendesse. Claro, tudo isto sem comparticipação do Estado. Nem sequer nas consultas. Porquê? Não, não me venham com a história de que os cidadãos pagam impostos e portanto podem optar. Isto aqui não é como optar entre Compal e Santal, queridos. Isto é mais sério e sabe menos bem.

E se tudo se passasse da mesma maneira nos Centros de Saúde, com os doentes que lá vão a aviar-se aí mesmo, mediante contratação barata com os hospitais, que lá colocariam os medicamentos prescritos, trazidos da farmácia hospitalar em carrinhas bem ventiladas, conduzidas por funcionários bem dispostos?

Faliriam farmácias? Só se falissem consultórios e clínicas; e se os portugueses, que são ricos, optassem por este sistema miserável que proponho.
Falharia o sistema? Sim, se o minassem. O que seria fácil, claro, minado já ele está, quase só falta pisar metade das minas. Mina-se bem quando se está por dentro e por fora ao mesmo tempo, só por fora é mais arriscado.

Basta pensar nos tipos da Medis, aqueles da publicidade, que perante um caso grave, daqueles que ultrapassam o "tome lá esta receita", o encaminham para onde? Para um hospital, claro. Sem pagar nada ao Estado por isso. E, no entanto, cobram-se. Isto é ilegítimo. Cobram serviços para depois enviar os seus utentes para a coisa pública? Eu sei que os utentes são e pagam a coisa pública: pergunto é para que serve a Medis! E outras! Neste contexto, servem-se. Eu entendo perfeitamente que se sirvam, o prato é fundo. Nada contra eles todos, Medis e quejandos, tudo contra o conceito.

Assim não. É como ser pai e bastardo, ao mesmo tempo, duma dama muito suja.

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