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30.6.05

Chaves

Como é estranho ver a Lolita enveredar pelo generalíssimo "está tudo mal". Há-de ser por preguiça, evidentemente. Ela não leva a mal que eu diga isto, seguramente. Eu acho perfeitamente que o PR não se pronuncie sobre a questão do aborto. Já o disse uma vez.

Portugal é um país povoado por pessoas que não podem discutir nada. Poder, podem, mas fazem da discussão o fim, não o meio. O gosto pela esgrima das palavras é demasiado forte, embora quem dessas esgrimas goste tenha, geralmente, pulsos fininhos. Não, aqui já não é com a Lolita.

Não se pode, por exemplo, discutir a questão do aborto ao mesmo tempo que outra questão qualquer. Não se pode. "Há este problema...". "Não, isso não é prioritário". "Está bem, mas existe o problema...". "Mau, Maria, já não disse que isso é pequenote!?".
O próprio futuro ex-candidato à Presidência da República (refiro-me a Cavaco Silva, que acho parecido, cada vez mais, com o Tino de Rans) assumiu, agora, um discurso de serralharia, em que não alinha duas frases sem introduzir a palavra chave. Qual é ela? "Chave", exactamente. A chave, ele sabe qual é, pelos vistos é só uma. É a chave com os dentes para cima, se a fechadura está para baixo, para a esquerda se a fechadura é para direita, horizontal, é ... é fazer as contas, que são poucas.

Portugal é um país sem soluções porque desiste de si ao menor escolho. Encolhe-se na graçola que identifica o erro mas não se atreve a corrigi-lo. Perante peido, não se evita o cheiro: afirma-se necessária radical mudança de cu. E, porque Portugal não possui massa crítica firme que combata os arautos da desgraça sem ser com piadolas augurando mudanças radicais, em Portugal tudo parece cair antes de, sequer, ter começado a erguer-se. Portugal é, como dizia Eça, um país de amanuenses, com tendências intelectuais que variam entre a tísica hemoptóica e a boçalidade rosada e luzidia dos gordos felizes, apenas, da vinhaça.

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