A devoção
É redundante e inútil discutir o impacto da morte do Papa em todos nós, cidadãos do Ocidente. Uns são fiéis convictos, outros, também fiéis, tornaram-se não praticantes por negligência, outros odeiam padres por qualquer longínqua recusa de indulgência e, conforme diria Freud, transferiram o ódio dos homens à religião, apaziguando assim os temores latentes sobre o castigo divino; outros, ainda, declaram-se obsessivamente ateus para, por contraponto, marcar a sua auto-determinação ontológica de seres pensantes, auto-determinados, na linha existencialista radical. E há, ainda, os que se declaram ateus por sequência inevitável da crença em ideologias que, alegadamente, negam a importância do mito na condição humana, sobretudo quando o homem atinge estádios superiores da intelectualidade. Vale a pena referir, como exemplo ilustrativo, a adesão do Bloco de Esquerda - através da querida Ana Drago - ao voto de pesar da Assembleia da República sobre a morte do Papa, apesar das suas posições sobre a sexualidade. Do tipo: não me confundam, que eu, que já sou grande, sei manter-me à distância dos fenómenos da fé.Enfim, é extenso o espectro de observadores atentos do finar do Papa e das sequentes exéquias fúnebres. O fio condutor comum à atenção que todos devotamos ao acontecimento é esse mesmo - o do acontecimento. O da grandiosidade do evento e do filme que se lhe seguirá, quando se iniciar o conclave. A morte do Papa não é, neste sentido recôndito da curiosidade colectiva, diferente do casamento de uma qualquer Pop Star. Ambos são, na sua essência, acontecimentos do mundo. E todos queremos, como é habitual, conhecer-lhes os pormenores.
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