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11.3.05

O silêncio feminino

Acho que posso dizer com segurança que não há publicação diária, rádio ou televisão que não divulgasse hoje a boa nova dos trinta e seis secretários de estado sem referir que, desses, apenas quatro são mulheres.
No pretérito dia da mulher, naquele dia que é pretensamente simbolizador do reconhecimento da importância do feminino, eu remeti-me a um prudente silêncio (parecido com aquele de que o besugo me acusou de praticar depois de ter votado à esquerda) e abstive-me de escrever, aqui, sobre esta temática - e respectiva solucionática (com a devida licença do besugo). Mas, na posse daquele dado complementar noticiado por todos (semelhante, de resto, ao que sucedeu quando se soube qual ia ser o dream team dos próximos quatro anos), não resisto.
Isto, na verdade, seria uma questão moral. Não chega a irritar; mas é seguramente desolador, se se pensar como tudo poderia ser diferente se o curso da história também o tivesse sido.
E a questão é esta: os movimentos feministas fizeram, pelo menos, tanto pela discriminação das mulheres como todos os séculos anteriores da civilização ocidental o fizeram. Algumas, sem mandato, falaram por todas. E todos - os que ouviram - assim perceberam: que todas reclamaram.
Pelo caminho, perdeu-se irremediavelmente parte da beleza do feminino que, com o tempo e com o exacerbar do preconceito feminista, entretanto partilhado por todos (homens e mulheres), passou a ser, consoante o contexto, ou sintoma de histeria ou de masculinização, quando dantes era apenas... feminino.
E é por isso que as mulheres passaram a ser referidas, nos jornais e nos telejornais, como o animal raro dos governos. Como se a raridade fosse, por definição, um desvio. Bem dispensávamos ter de assistir a isto (eu, pelo menos, dispensava): uma sociedade de homens e de mulheres que, em público (só aí, pois), se esforça por declarar-se feminista firme e convicta.

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