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17.11.04

Cruzes e negas

1 - Parece-me bem que o conselho de ministros reúna embarcadiço, no Dia do Mar. Se um dia houver um Dia das Lixeiras a Céu Aberto, o País confia na coerência dos gestos simbólicos e, mais ainda, na simbologia das gestas ministeriais. Para ser perfeito calharia no Verão.

Ontem sonhei que havia um conselho de ministros na Páscoa, também. Um conselho pascal. Todo o ministério se tinha deslocado, descalço, ao Monte das Oliveiras, evidentemente. O senhor ministro da defesa e o senhor primeiro ministro presidiam ao solene "meeting", dependurados de ambas as cruzes laterais. Um em cada cruz, apesar da discussão inicial que mantiveram a respeito do seu posicionamento: o senhor minstro da defesa chegou a berrar que "eu também quero estar nessa, ora bolas!",mas foi serenado pelo senhor ministro do ambiente, que se sentou a seus pés, em silêncio, uns metros respeitosos mais abaixo. Estavam descalços, como já se disse, o que pode ajudar a explicar este recato.
Havia sido tapada a cruz central, que se mantinha lá, mas completamente fora daquele tempo e daquele contexto.
Acordei na certeza de não controlar os meus sonhos, mas de sonhar com respeito.

2 - Sobre a crise na coligação governamental, ficámos todos a saber que ela não existe. Não, vá lá, não brinquem, párem, o que não existe é "a crise", tontos!

"Não houve crise nenhuma", repetiram os líderes dos dois partidos que integram o Governo."A imprensa sabe sempre coisas que eu não sei", disse ainda o primeiro-ministro...

A última frase do primeiro-ministro, aquela em que compara a quantidade de coisas que ele sabe com a (na opinião dele) superior quantidade de coisas que a imprensa parece saber sempre, impressiona. Impressiona, como tudo o que Santana Lopes profere, pela veemência do seu ar surpreendido. Também impressiona um bocadinho por ter sido proferida ao lado de Paulo Portas, mas cada vez menos.

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