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26.11.04

Comentários às besuguices sobre a Ucrânia

1. A primeira abordagem é essencialmente ideológica. O lamento, a pincelado esbatido, sobre o fim da URSS e sobre a falência do comunismo mais o respectivo nivelamento patrimonial, exposto por confronto a uniões mais recentes, mais económicas do que culturais, como a nossa, a europeia. Da primeira, o besugo sente a falta; da segunda, sente o tédio - eu também. Subscrevo. Sobre a segunda, claro.

2. A segunda é futebolística. A Ucrânia, ex-república soviética, tem tradição na prática desportiva em geral e futebolística em particular. Naqueles tempos, nenhum ucraniano escolhia ser futebolista, porque alguém escolhia por ele. Curiosamente, até eu, que era catraia e só ouvia falar indirectamente de futebol, conhecia o Dínamo de Kiev. Donde, de duas uma: ou as oligarquias ucranianas tinham uma imensa habilidade para caça-talentos ou então as orientações vocacionais dependem muito menos das vontades individuais do que dos interesses colectivos. Ou então são conciliáveis. O que agradaria ao besugo - ver ponto 1.

3. A Ucrânia como país exportador de mão-de-obra. É mesmo verdade, são todos altos e loiros e, para além de altos e loiros, são todos dentistas, engenheiros, farmacêuticos ou investigadores de biologia molecular. Quase perfeitos, dir-se-ia, naquelas predisposições físicas e académicas para o sucesso no mundo ocidental. No entanto, a Ucrânia rejeitou-os e nós recebemo-los porque são ordeiros, responsáveis, simpáticos mas, sobretudo, porque nos assombram com o mesmíssimo património genético-cultural que Tolstoi, Eisenstein ou Tchechov carregavam; e nós estamos a ficar mais mortiços do que já eramos, não duvidem. Até o Jorge Palma não se cansa de dizer que deixou de fazer noitadas e que detesta ressacas, enquanto saboreia uma insípida coca-cola light.

4. O besugo é um desavergonhado. É tanto o frémito de maldizer a nossa união que chega ao ponto de defender o candidato apoiado por Putin, o ex-espião soviético, o homem que passou a escolher, na solidão do poder, os juízes do seu Supremo Tribunal e que piorou para o triplo aquele inominável massacre de há uns meses atrás. Pensa, besugo. Podes corrigir esta, redimes-te e, no mínimo, manifestas abstenção.

5. Aqui, o besugo expõe a Ucrânia na perspectiva entupida do mundo. É mesmo assim, como ele descreve: não há idade para se ser ligeirinho e egocêntrico. Aliás: primeiro existe-se egocêntrico, depois descobre-se um ligeirinho. Um ligeirinho não consegue mais do que debitar vulgaridades, seja sobre a Ucrânia, seja sobre si próprio, o que é bastante mais grave, porque circular. Do tipo pescadinha de rabo na boca. Há disso por todo lado, até nos msn, até nas academias científicas. Há benfiquistas assim, também, mas também há benfiquistas que não são assim - aqueles para quem ser benfiquista é só uma casualidade, embora não o saibam.

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