blog caliente.

7.10.04

Tricas

Uma televisão privada tem o perfeitíssimo direito de contratar os comentadores políticos (e desportivos, mesmo cozinheiros) que quiser.
Se houver, num país, dezassete televisões privadas, todas elas têm o mesmo perfeitíssimo direito de fazer o mesmo.

Consigo imaginar um país só com televisões privadas, usufruindo, todas elas, do seu legítimo direito à definição da sua inatacável linha editorial. A voz do dono? Que seja. Consigo, até, imaginar dezassete linhas editoriais semelhantes, distintas apenas no acessório da trica, que não na mensagem de fundo.

Por isso me faz pouca impressão este extraordinário sismo (grau 2, um "puf", na pobre escala de Mercalli) que abala o país, com epicentro no turbulento e possidónio arrastar de cadeiras entre Marcelo Rebelo de Sousa, a TVI e o Governo. Como havia isto de me fazer impressão, se me lembro do episódio da "vichyssoise" de Marcelo e Portas, das "boutades" de Santana Lopes enquanto ante-projecto de si, da TVI enquanto obra (ainda) inacabada da insensatez alarve?

O que é um comentador senão uma pessoa que comenta? Um intermediário (com maiores ou menores reservas mentais) entre os factos e a interpretação que cada um de nós tem obrigação de fazer, sem muletas subsidiadas, dos mesmos factos.
É mais que isso? Porquê? Por ser pago? Por ter fama e proveito de ser brilhante, esperto, fino? Será um comentador um "alumiador de caminhos"? Mesmo sabendo que há quem lhe financie o azeite da candeia?

Não. Não me chateia nada, isto. São tricas de nervosinhos, questões de quintinhas e quintais.

Chateava-me (e há-de chatear-me, um dia, às tantas) era se se passasse na televisão pública. Aí é que era grave. Nas outras todas, dezassete que sejam, é previsível, provável, se calhar inevitável. Que se entendam.

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