Deslocados
Curiosamente, o que hoje me chamou a atenção na TVI não foi a demissão do mais acutilante opinion leader português. Foi por mero acaso que assisti a uma reportagem, feita em Moçambique, sobre o trabalho de voluntariado de um cirurgião plástico e uma assistente social - um num hospital onde falta tudo e outra numa missão onde se recebem crianças deficientes. Às vezes ainda espanta a evidente sensação de suprema gratificação que significa praticar o Bem apenas para fazer outros mais felizes ou, ao menos, menos tristes: ambos expressavam uma invejável e serena beatitude, contrastante, porém, com o olhar perdido de crianças que foram vítimas em histórias dolorosamente tristes. O menino, em tempos regado com petróleo e fechado num espaço em chamas, que continua a ter pesadelos; o rapazinho, de cinco anos, que não cresce e ninguém sabe porquê. A dada altura, o meu rapazinho cá de casa, que não tem pesadelos desses e que cresceu sem ninguém dar conta, disse-me que eu estava triste a olhar para eles. Pois. Tão cedo, não os esqueço. Nem do cirurgião plástico que ia arranjar qualquer coisa para que o menino não tivesse pesadelos, nem da assistente social que só queria vê-los sorrir.
Apenas mais um pormenor: o som de fundo da reportagem era o "Cinema", do Rodrigo Leão. Aquela música do lacrimejante, porém sobrevivente, violino.
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