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4.10.04

Tolerâncias

Amanhã não gozarei da tolerância de ponto. Acredito nos feriados, nos Natais, nas datas importantes, laicas ou santas. Mas não me fazem falta "pontes" porque vivo numa cidade que tem três. O Porto tem cinco ou seis, mas é uma cidade maior. Olha, logo o Porto!
Gosto do Porto. Há uma geminação emocional e intelectual entre a Régua e o Porto desde que o Douro foi parido da barriga dum monte castelhano e decidiu seguir até à foz ao lado duma linha férrea. Desde que me lembro, desde antes disso (vejam a "Ferreirinha", boa obra).

Gosto de tolerância, mas não gosto de "pontos". "Tolerância de ponto" é intolerável, para mim. Ou é dia de trabalho, ou é dia de repouso. "Tolerância de ponto" cheira a "anda lá, pisga-te, madraço". Não gosto.

Não desmarquei consultas, nem quimioterapias. Eu sei que, mesmo que quisesse desmarcá-las, não seria legal: os tratamentos em oncologia são uma espécie de "cuidados intensivos" dos pobres crónicos. Se o manolo ainda aqui viesse, que não vem, está aborrecido comigo, dar-me ia razão. Já me ajudou a salvar uma "pobre crónica" numa altura em que agudizou a pobreza.

Mas a verdade é que não desmarquei nada porque não quis. E teria sido fácil.

Por minha causa vão trabalhar, durante a tolerância de ponto, dois enfermeiros e uma funcionária administrativa. Acreditem ou não (pouco me importa depois do que tenho lido e ouvido sobre "os médicos"), os três me disseram, na sexta-feira (dia em que acumulei urgência e hospital de dia, ainda consigo isto, já não consigo é digerir discursos de circunstância), "segunda feira cá estamos!".

E estavam com boa cara. Como eu hei-de estar, amanhã.

Vai haver aquilo que faz falta nos hospitais: a cumplicidade "quase missionária" dos que lá estão boamente quando seria fácil não estarem... Se lá estiver a gente certa (palpita-me que vou encontrar o manolo, não sei porquê, o Mário Rui... o Subtil... o Guimarães... a Elisa... não sei, parece-me que estes, pelo menos, vão lá estar) será um dia bom.

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