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11.7.04

A beleza



Desde que iniciei a minha longa viagem pelo cinema - que, como sucede com toda a gente, começou na infância - já vi repetidas vezes o "Eléctrico Chamado Desejo" e o "Há Lodo no Cais" (que é, de resto, um título distante e redutor do original "Waterfront"), cujos sentidos explícitos e implícitos ia interiorizando, à medida que crescia, por camadas gradualmente mais profundas. A omnipresença de Brando naqueles dois filmes foi, naturalmente, aumentando aos meus olhos e fui construindo, para mim, a imagem de um actor que começou apenas por ser bonito e expressivamente atormentado para um actor absolutamente irrepetível. Quando ele morreu, há dias atrás, li algures uma daquelas afirmações oportunas e quase redentoras da sua morte, segundo a qual Sean Penn e Johnny Depp são os sucessores naturais do "Método" de Brando e da sua magistral forma de se usar a si e aos seus tormentos para ser os seus personagens. Como se se tentasse, com isso, torná-lo imortal através de aprendizes de técnicas de representação que nunca terão o seu essencial talento. Marlon Brando é único, como algumas, poucas e excepcionais pessoas o são. Não se imita nem se persegue a sua enorme percepção da condição humana e do seu sublime sofrimento. Marlon Brando era, para mim, o mais bonito actor de sempre do cinema e, seguramente, um dos homens mais essencialmente bonitos que já vi ou conheci. E, quem me conhece, sabe o que eu quero dizer.

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