blog caliente.

18.7.04

Afirmações de besugo (XXVII)

O novo governo está constituído. Le père noel est une ordure. Digo eu, que cito fracamente fracos filmes.
 
Escuto sempre o que dizem os comentadores cuja velocidade sináptica neuronal respeito, independentemente do que penso deles do ponto de vista ético. Oiço, sempre, portanto, Marcelo Rebelo de Sousa. Como oiço outros. Já percebi que o segundo maior umbigo do PSD (a cicatrícula umbilical mais proeminente do laranjal é, desde há muitos anos, o actual primeiro-ministro) acha o nosso novo governo fraquito. Uma manta de retalhos. Eu já achava isto dos seis anteriores governos, mas não justifico.
 
Eu também acho que este, o novo, o da retoma, é fraquito. Mas nem os senhores me pagam para explicar porquê, que já têm opinião formada, nem querem saber. Por outro lado, isso - a tibieza dos novos mandantes - parece-me tão evidente que, nem desafiado, me maçaria a justificar-me. Haverá quem diga que "tu não te explicas porque não sabes explicar-te, ora essa!" e eu respondo "pois, e tu falas assim porque te encabaram no Colégio Militar". Entendamo-nos: uma afirmação vale, quase só, o que vale a credibilidade de quem afirma. Apenas isso. E, acreditem ou não, eu não peço (nem mereço) mais que isso. Nem percam tempo com mais nada.
 
Passo às afirmações propriamente ditas:
 
Afirmo que este governo não vai concluir a legislatura.
 
Afirmo que Santana Lopes vai amuar, recolhendo-se às capas das revistas mundanas, em menos dum ano.
 
Afirmo que vai haver populismo de direita, mas também de esquerda. Que este governo é mais facilmente derrubável que conservável pela desonestidade intelectual que infiltra a sociedade portuguesa, em todos os seus sectores, pelo que, no confronto bipolarizado das nossas habituais desonestidades globais, já está a perder em casa e vai acabar goleado. E que tudo isto será inteiramente merecido, do ponto de vista da estratégia política, e nojento do ponto de vista ético e da cidadania, mas eu não tenho de ser mais cidadão, nem mais ético, que os outros. Muito menos a esta hora.
 
Afirmo que é curioso ver um partido de expressão eleitoral "esganiçadita e saltitante" fornecendo tanta "ministraria" para a governação. É quase como se o Alverca tivesse 5 titulares na selecção nacional. Nem pensar: é diferente! O Alverca pode ter, o CDS é que é ridículo que tenha. É mesmo diferente!
 
Afirmo que Ferro Rodrigues merece mais credibilidade do que qualquer dos seus mais que prováveis sucessores no PS, independentemente do facto (que careceria de melhor prova) de ser um político inábil. É relativamente suspeito que seja, sobretudo, a direita (e a esquerda cocó, já agora, a esquerda que gostava de ser do centro) a afirmar-lhe a incompetência, num enterro prematuro e imerecido, de escasso acompanhamento. Bastaria isto para me fazer dizer o que digo, mas eu tenho outras razões, que também não forneço.
 
Afirmo que, não contestando a inteligência de António Vitorino (toda a gente diz que sim, quem sou eu?), me parece ser a direita quem mais lhe sente a falta: contratai-o, nesse caso, senhores. Se bem que tendes, já, no estilo "potencialmente fulgurante, embora pequenote", Marques Mendes... mas o vosso banco dos suplentes é vetusto, bolorento, grande e doirado. Até Leonor Beleza de lá vai saltar, um dia, como se não merecesse recessos escuros até ao fim da sua vida política. Eu estou a ler-vos.
 
Afirmo, para terminar, que o Sporting vai ganhar a próxima super-liga. Afirmei isto, apenas, para vos proporcionar uma culminante e ensurdecedora gargalhada, obviamente. Eu gosto de observar os senhores a rirem-se de mim. Encarem isto como um ensaio clínico, ainda em fase II. Qualquer coisa sobre "o apriorismo bacoco na blogosfera: por que não ao alcance de todos?"

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