blog caliente.

10.5.04

Comentários de besugo

Aqui no estaminé cedo decidimos que não teríamos "secção de comentários". Por várias causas, umas mais elaborados, outras mais toscas, mas todas elas intelectualmente honestas, do nosso ponto de vista. E o nosso ponto de vista, como aceitarão facilmente, era o que contava. Que me lembre, aliás, eu só apontei um motivo para não haver comentários (e fui, curiosamente, totalmente apoiado pela Lolita): "Não estou para ler um imbecil qualquer, coberto pelo anonimato, a insultar-me em minha casa, mais ou menos publicamente, sem lhe poder partir a tromba de imediato".

Dissequemos isto, de forma ligeira. Querem?

1 - A casa é nossa, de facto. Isto não é dicutível. É uma casa humilde, de janelas abertas e bem arejada, embeleza-se quase só nas visitas que vai tendo (sempre bem vindas, genuíno prazer o de receber), mas não depende delas. Como nenhuma casa depende: a gente não faz uma casa para os outros, faz para nós. A gente gosta muito que os outros gostem, agradece, sente-se bem, mas quem lá vive, exactamente, somos nós. Não são os outros.

2 - A imbecilidade de quem insulta... ora bem: é evidente que eu posso sempre ser insultado por um tipo qualquer que não seja imbecil. Pode ser, apenas, malcriado. Ou cobarde. Ou comunicativo, enfim. Mas, em minha casa, a minha decisão sobre imbecilidades é muito mais parcial do que na rua. Porque há um acrescento ignóbil no insulto, quando ele nos acontece das nossas portas adentro. E já se fizeram batalhas grandes, verdadeiras guerras, por coisas assim. Fica a gente com a sensação que nos cuspiram no soalho acabadinho de encerar. Fica-se mal. Parece que o soalho é um bocadinho de nós. E é.

3 - O assunto anonimato pode ser complicado. Mas não é. Eu bem sei que não me chamo besugo, o que poderá fazer alguns excitados apontarem-me o dedo, em riste acusatório, declamando "Ah! Viste, besugo, que também te escondes?".
Não é verdade. Ninguém aqui se esconde atrás de pescado nenhum, senhores. O que acontece é que cada um é livre de se revelar (e como a gente se revela, mesmo sem querer, aqui no blogame mucho!) da maneira que lhe apetece, um bocadinho mais todos os dias. Uns dias mais, outros menos, outros nada, ao seu próprio ritmo de exaltações e de pudores. É um anonimato relativo, feito de paz e sossego, que se vai esgotando na vontade de revelação que lhe deu origem, mas se mantém contido nas margens da vontade. Não sei se me faço entender, mas é apenas isso. Não é comparável, nem na essência, nem na intenção, ao comentário anónimo insultuoso. Este sim, esconde. Esconde-se, pelo menos, de correctivo.

Quem quer falar connosco, dizer-nos seja o que for, tem o e-mail, está ali a um canto, bem visível. E como nós gostamos disso! Pequenas vaidades de quem gosta tanto dos outros que se atreve a pensar que pode sobrar, nos outros, algum carinho por si. É normal. Aceitável, pelo menos, não acham?
E quem tem blogues pode, sempre que quiser, escrever de nós (bem ou mal, já aconteceu, felizmente) em sua própria casa. Ficamos sempre contentes com isso, porque conversar assim ganha outra decência, outra credibilidade, outro valor. Nós preferimos, com toda a lealdade.

Pode perguntar-se: "Que quer agora este besugo, aborrecido peixe?!"

É simples. Não quero nada. Eu gosto é de visitar o Ma-Schamba. Cada vez mais.

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