Elvis
O homem da voz portentosa entrou simplesmente no palco, com luzes sombrias, como se fosse apenas ali, cantar. Como, de facto, foi. Ao fim de uns minutos de guitarra acústica, olhou o público e sorriu, com um afável good evening. Rejeitou a via fácil de ver o público delirante a ouvi-lo a cantar She, apesar dos muitos lamentos. O anti-vedetismo é-lhe tão natural como a sua anasalada voz que, supremamente afinada, dispensou, nos momentos mais fascinantes do concerto (lembro-me de I still have that other girl, que há-de, digo eu, tornar-se inesquecível), qualquer outro instrumento, incluindo o microfone que o faria cantar mais alto. Elvis Costello cantou com emotividade constante, como quem está apaixonado pelas suas músicas, pelas suas letras, como que se aquilo que canta fosse a sua vida, sem ficções, sem representações. Por tudo isto, fez-me vaguear nos pensamentos enquanto o ouvia, repare-se, com involuntária atenção, presa àquela voz. Um todo pleno, como sempre acontece com a música inspiradora que nos emociona. Como ao besugo, também me custou que Still passasse, talvez, despercebido. Ou, se calhar, a mim é que me custou que acabasse depressa.Fui bem acompanhada. Este blogue teve quorum, o Blasfémias esteve em minoria. Acrescento que o besugo mente quanto aos solavancos; o Gabriel é testemunha de que o Porto ainda tem muitos pavimentos em paralelo. Em contrapartida, o carro subiu um passeio em sobre-esforço... porém, antes das francesinhas.
Excelente noite.
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