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15.12.03

Esguichos de besugo (IV)

O alonso merece resposta mais adequada do que a que eu hoje lhe vou dar, neste estado miserável em que me encontro. Sim, por uma questão meramente solidária, não faço a barba desde ontem e despenteei-me vigorosamente.

O Alonso detestou, como eu, a morte sumária do Ceausescu e da mulher. Abominou os pontapés que levou aquela senhora romena bem vestida, dados por uns mineiros quaisquer, logo a seguir, em Bucareste. Vomitou com a morte macabra do tipo da Libéria, há uns anos. E com a do aviador israelita que se ejectou, há mais de 15 anos, sobre o Líbano (e foi morto com requintes próprios de canzoada, e passeado nas ruas poeirentas e na televisão do mundo para os filhos, em casa, poderem ver). O alonso lembra-se do linchamento dos dois polícias ingleses, na Irlanda do Norte, em 1988, apanhados que foram a observar as exéquias dum católico do IRA, morto previamente pelos polícias ingleses. E lembra-se de ver imagens horrendas de Mussolini, entre outros, pendurados pelos pés, já mortos mas "ali", a serem escarrados pela populaça.

Os outros mortos, as vítimas inocentes dos humilhados finais, remetem-me para um bonito filme: "A vida é bela". A morte dos justos, dos impotentes, é muito importante, muito chocante, muito revoltante. Choramos juntos, alonso, a vileza dos vilões e a tristeza dos pobres, seja em Cuba, na Alemanha, no Iraque, na Argentina ou no Chile. Eu sou homem para chorar onde tu quiseres!

Mas a imagem dum homem humilhado não devia vender-se, quanto mais mostrar-se gratuitamente. Se um dia os americanos de juízo decidirem que Bush é um assassino imbecil e decidirem aplicar-lhe sevícias públicas e televisivas, eu juro-te pela saúde dos meus filhos que te repito isto sem retirar uma vírgula.

Eu espero que o Fidel, que é o velho e despótico líder dum país pobre, não seja apanhado com vida por americano nenhum, por cubano nenhum, por homem nenhum. A menos que me prometam que a populaça inteira se vai transformar, definitivamente, em povo. E até te digo mais: que me assegurem que os iraquianos colaboracionistas vão ser desmascarados pelos iraquianos genuinamente descontentes (ah! Pétain! vives ainda, cão francês! residente, agora, no Iraque!). E que ao Fidel, a ser apanhado em vida, não lhe desfarão a barba, não lhe darão banho - não tem ar de precisar, até o Saddam tem um ar limpo, embora desleixado, quanto mais o Fidel! - nem o cercearão da liberdade de continuar a fumar charutos "hechos en Cuba", e não "made in Bushy and bloody Blairie homeland!". Prendam-no, julguem-no, mas não o exibam derrotado. Sobretudo não divulguem imagens de matarruanos do Massachusets mascando insolentes chicletes a grunhir "Eu disse-lhe (ao caralho do iraquiano da merda!) que lhe apresentava os cumprimentos de G.W. Bush!". Os cumprimentos dum lorpa? Apresentados por um alarve de capacete? A um homem acossado? Baril, bués, fixe. Viva a vodafone! Duh!

O problema não é meu. É de quem pretende encontrar alguma pedagogia neste "cinema" degradante, baratucho, de pacotilha. Isto é apenas triste.

Eu e o alonso estamos de acordo. Mas ele nunca o admitirá, até porque não tem televisão em casa.

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