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26.10.03

Intriga nacional

Intriga-me esta onda de acusações ao Ministério Público. O Souto de Moura está longe de estar à altura das funções, se se atentar na sua habilidade notória para errar a pontaria nas situações em que fala e devia estar calado e, mutatis mutandis, na situação inversa. Mas está, também, longe de ser o arquivador-geral da República que na década de noventa sossegou e acarinhou os poderosos influentes da economia e da polí­tica portuguesa. Poderá estar aqui, portanto, uma pista a seguir para esta frente inquisitória, generalista, histriónica, que pede a cabeça não só do PGR mas da procuradoria toda.

É grave que o bastonário Pires de Lima compare o MP à  PIDE ou à GESTAPO. À força da abundante e transversal polémica sobre a justiça, hoje presume-se que quem berra mais alto é quem tem razão , quando, pelo menos do meu ponto de vista, declarações com este teor mereceriam, de tão patéticas, a mais absoluta desconsideração. É exigível que um Bastonário de qualquer ordem mostre rigor, contenção e sensatez quando opina publicamente e que não se porte com a ligeireza que teria se estivesse numa tertúlia de amigos em que, entre Cohibas e aguardente velha, caricaturasse com cores fortes os podres das instituições.

É, igualmente, grave que o bastonário Júdice acenda o barril de pólvora ao sugerir publicamente a demissão do PGR e depois se recolha atrás de éticas bacocas sobre cartas entreabertas cuja existência ele próprio legitimou e que, ao que parece, não passaram de uma ratoeira em que o Souto de Moura, mais uma vez, caiu, errando de novo a pontaria.

Tudo isto parece-me estranho e intrigante. Independentemente das ambições pessoais, conhecidas ou insondáveis, de cada um destes bastonários, e que dou de barato que possam até ser legítimas. Espero é que tudo isto não tenha outros fins mais obscuros, como o de que voltemos à era do arquivo morto.

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