Revoluções
Malfeitor!
Não consumo literatura, agora. Sobretudo o que escrevem os meus contemporâneos. Pecado meu? Certamente, sim, uma burrice grande. Mas, geralmente, chateiam-me muito.
Mas releio muito, nesta fase da minha vida.
E, portanto, posso falar, sem mentir, das minhas "releituras". São muitas, mas como me pedem só cinco - e presumo que se está aqui a falar de livros -, proponho cinco escritos de Eça.
Ficam aqui, como penhor de amizade a dois poveiros acidentais.
1 - A Capital: a história dum Artur Corvelo, ex-académica e ainda mais efeminada criatura, que quer ser autor admirado em Lisboa pelos seus versinhos e dramaturgias líricas. Ajudante de farmácia em Oliveira, sobrinho de tias religiosas, recebe herança de padrinho e emigra para a Capital que é, no seu entender, um Mundo! Encontra a classe jornalística, personificada por Melchior - o lambe-cus infame -, é escorraçado pela sociedade caduca do jet-set oitocentista (oitocentista, sim), mete-se com espanholas, putas e pseudo-aristocratas falidos, poetas sebosos e republicanos catacúmbicos. Fracassa, é humilhado, enxovalhado, perde o guito, e regressa a Oliveira: depenado e com histórias chulas de fadistas e nobrezas moles para contar no bilhar da vila. Ao Rabecaz.
2 - Alves e Companhia: um Alves de princípios rígidos, careca e comerciante próspero, descobre Ludovina, sua mulher e manteúda legal, nos braços de Machado, o seu sócio e protegido. E logo no aniversário do casamento de ambos, que é no que dá regressar a casa mais cedo, de surpresa, sem bater com os pés. Alves expulsa Ludovina, devolvendo-a à casa paterna, e quer que Machado aceite um suicídio sorteado, "quem perder mata-se".
Tudo isto acaba por evoluir para um jogo de cedências, em que Alves não se bate, Alves mantém mesada gorda para Ludovina e família paterna irem a banhos para Vieira de Leiria, até à cedência final: Alves pede a Ludovina para voltar a casa, meses depois. E ela volta. Volta-se sempre, eu sei.
3 - O Conde de Abranhos: um tonto, a julgar pela pena narradora de Zagalo, acaba por se manter dentro da pele do "ser ministeriável" até - pelo menos - 2007 (ou 2017, depende de quando se relê). A diferença entre um tonto destes e um filho da puta é mínima. Sim, os tontos são, geralmente, filhos da puta que se babam para fora.
5 - Os Maias: a história de João da Ega e de Afonso da Maia, contada como se o facto de Carlos da Maia e Maria Eduarda serem irmãos e andarem a papar-se de forma elegante fosse relevante, ainda por cima enquadrada por criaturas marcantes como Alencar (o que Bulhão Pato cuidou ser caricatura sua), Cohen e Gouvarinho (os enfeitados), e os "inhos", Damasozinho-flor e Eusebiozinho-mole.
Eram só cinco, mas espreitem ainda os Contos, as Cartas, A Ilustre Casa de Ramires, o resto inteiro.
<< Home