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13.7.07

Da perda


Estares assim, aí, apesar da morfina do tempo do fim, deve ter-te doído muito.
Como meço isto? Não sei.

Sei que começaste a morrer cedo. Estavas grávida. Foste brava. Não falaste nunca disso, mas quero que saibas que todos sabíamos, quando finalmente apareceste para o primeiro tratamento, já sem a barriga da vida - porque a vida que tu mais querias já estava fora dela -, que te adiaste.

Não perdeste nada. Nós é que te perdemos. Tens tudo intacto.

Não tens nada. Eu sei.
Naquelas noites da agonia de há três semanas, naquelas noites em que os teus se revezavam na vela do teu fim, todos nós, os que não éramos teus, cismávamos em ti, fazendo cada um o que tinha de fazer em outros lugares, mas todos fascinados por ti e pelos teus, tu já definitivamente misturada com os teus, todos nós cheirando por dentro a tua agonia, naquela mistura da despedida em que já não eras só tu a despedir-te, éramos todos a despedirmo-nos de ti e de nós, mas tudo em silêncio e demasiado longe de ti para que te lembres.

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