Não há planetas com luz própria. Nem o Agostini.
Ortega, quando desenvolveu a história do "eu" e da sua "circunstância", fê-lo o melhor que pôde e, afigura-se-me, de boa fé.
Como todas as reflexões demoradas, a de Ortega é longa e simples. E esvazia-se de sentido prático logo que se substitui, na teoria inteira, a primeira pessoa do singular por outra pessoa qualquer que não seja a primeira pessoa do plural, isto porque "nós", bem vistas as coisas, ainda é "eu". Embora menos.
Porém, assim que o "eu" se torna "ele" - ou "ela", ou "tu", ou "eles"... - a "circunstância" perde peso na teoria inteira, na prática inteira, transforma-se logo em "cem gramas de desculpas de mau pagador".
Eu sei. O que escrevi nem sequer serve para tentar explicar ao meu irmão (que só se dirigiu a mim porque sou médico, cuido) que não se dão conselhos diferentes a uma rapariga que quer ir para medicina por ter tido vinte a matemática, dos que se dão a um rapaz que vai trabalhar para a vinha porque não tirou dez a português.
Não sei.
Eu não posso dar esses conselhos. Penso que ninguém, ao menos de boa fé, pode.
Eu tenho a minha circunstância.
Eles têm as deles.
Nada sei dessas relatividades fora de mim. E, mesmo que julgasse saber, seria humilhado pelos saberes circunstanciais que emolduram cada um dos "eus" que "eles" possuem: seria arrasado pela sua sabedoria ignorante de mim, pagando caro a minha ignorante sabedoria de ambos.
Com ela, a rapariga que quer ser médica, e com ele - o rapaz que se limita (?) à vinha - há-de ser igual: nada saberão mesmo, bem vistas as coisas, "uma" do "outro", sem ser sob os filtros das luminotecnias circunstanciais da cabeça de cada um e, já agora, dos outros filtros todos, muito escuros, finos, competentes, adequados.
Como todas as reflexões demoradas, a de Ortega é longa e simples. E esvazia-se de sentido prático logo que se substitui, na teoria inteira, a primeira pessoa do singular por outra pessoa qualquer que não seja a primeira pessoa do plural, isto porque "nós", bem vistas as coisas, ainda é "eu". Embora menos.
Porém, assim que o "eu" se torna "ele" - ou "ela", ou "tu", ou "eles"... - a "circunstância" perde peso na teoria inteira, na prática inteira, transforma-se logo em "cem gramas de desculpas de mau pagador".
Eu sei. O que escrevi nem sequer serve para tentar explicar ao meu irmão (que só se dirigiu a mim porque sou médico, cuido) que não se dão conselhos diferentes a uma rapariga que quer ir para medicina por ter tido vinte a matemática, dos que se dão a um rapaz que vai trabalhar para a vinha porque não tirou dez a português.
Não sei.
Eu não posso dar esses conselhos. Penso que ninguém, ao menos de boa fé, pode.
Eu tenho a minha circunstância.
Eles têm as deles.
Nada sei dessas relatividades fora de mim. E, mesmo que julgasse saber, seria humilhado pelos saberes circunstanciais que emolduram cada um dos "eus" que "eles" possuem: seria arrasado pela sua sabedoria ignorante de mim, pagando caro a minha ignorante sabedoria de ambos.
Com ela, a rapariga que quer ser médica, e com ele - o rapaz que se limita (?) à vinha - há-de ser igual: nada saberão mesmo, bem vistas as coisas, "uma" do "outro", sem ser sob os filtros das luminotecnias circunstanciais da cabeça de cada um e, já agora, dos outros filtros todos, muito escuros, finos, competentes, adequados.
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