O aborto e os consumidores
Não é particularmente incomodativo que
João César das Neves utilize figuras de estilo de pendor economicista para defender o não no referendo do aborto - nem se podia, bem vistas as coisas, esperar algo diferente disso. Pelo contrário: comparar o aumento de abortos, em caso de despenalização, ao aumento de telemóveis para condenar a "normalidade" com que se recorreria à IVG acaba por ser, se virmos bem, uma preciosa ajuda à causa do sim. Estatísticas indesmentíveis na mão, fervor na condenação à apocalíptica libertinagem e aplicação das regras da macroeconomia ao direito a nascer: uma abordagem económico-inquisitória. Na questão da despenalização do aborto, tudo se resume, para o visionário César das Neves, ao consumo, à leitura das estatísticas do nível de consumo e à repressão do excesso de consumo por via legal. É, pelo menos, isto que diz a sua inseparável máquina de calcular. Telemóveis e abortos, tudo é comparável. São números.
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