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17.1.07

Ensino tutelar

Discordo da criação da figura do professor-tutor, uma das últimas novidades da obsessão reformista do governo Sócrates. Sei que noutros sistemas de ensino se preconiza essa pedagogia abrangente, tutelar, mas estou convencida de que, podendo ser uma solução razoável, está longe de ser a única e muito menos de ser excludente do actual modelo de ensino do segundo ciclo. Pelo menos por três razões, assim de repente. Antes de mais, porque essa transição de um professor para vários acompanha a transição etária da infância para a pré-adolescência, catalizando essa evolução e suportando-a, sustentando o amadurecimento pré-púbere. Depois porque me parece paternalista e bizantina: preconiza-se protecção e descomplicação num momento - a entrada no segundo ciclo - que é o mais oportuno para "complicar", para iniciar a aprendizagem do complexo real nas matérias e nos métodos. Ter vários professores é bem mais proveitoso e parecido com a vida real do que beber a sabedoria de uma mente única, que acaba forçosamente por ser, ainda que involuntariamente, uniformizadora do pensamento. Julgo (embora admitindo estar errada) que o insucesso escolar no segundo ciclo explica-se muito mais por razões estruturais de natureza social, cultural e familiar do que por essa súbita multiplicação dos docentes. Que, aliás, sempre foi o modelo utilizado ao longo de várias gerações portuguesas, muito antes de se falar em insucesso escolar como um problema estrutural do país. Por último, desagrada-me o termo escolhido. A palavra "tutor" soa-me bafienta, pseudo-sábia e, sobretudo, contraditória com o termo "professor". O conceito de "professor-tutor" encerra um antagonismo óbvio entre a ideia de fornecer os meios para descobrir a realidade (que consiste em ensinar) e a ideia de transmitir uma realidade hetero-concebida (que define a acção de tutelar). Por tudo, parece-me que com esta ideia peregrina se obterá, não um prolongamento da infância (até porque, no quinto e no sexto ano, ela já se esbate a olhos vistos), mas antes um prolongamento da menoridade. Até ao terceiro ciclo, and going.

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