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4.6.06

Tirem-me as aspas, sim?

1 - A indolência

A lolita crê ser a precaridade a mãe de todas as virtudes. "Diz-me se estás em situação precária, dir-te-ei se tendes - ou não - para a indolência".
Curiosamente, não se refere a incentivos à competência. Prefere engraçar com os "incentivos por precaridade".
A lolita, pelos vistos, admira os egípcios e os chineses, que conceberam as pirâmides e a grande muralha – em sítios diferentes - com base na mão de obra escrava. A escravidão encerra, em si, a maior precaridade que há.
A lolita é, portanto, uma egípcia. Uma chinesa de casta. Uma negreira dos tempos modernos.

2 - A prepotência

Há gente assim, prepotente. Em todo o lado. Encontra-se muito disso no patronato liberalóide, por exemplo.
No entanto, o que irrita a lolita, é mais aquela coisa do “trabalho eterno”.
Por acaso, o trabalho pode ser irritante só por si. A ideia de “trabalho eterno” motiva-me maior desconsolo, por exemplo, que a ideia de “férias eternas”: isto é certinho.
Mas há gente assim, de facto.
Há os que chegam a um sítio público e encontram pessoas que cuidam ser donas daquilo e de quem lá chega, há os que chegam a um sítio e já vão convencidos que são patrões daquilo e de quem já lá está.
Há gente para tudo.
Mas já se percebeu, logo em 1, que a lolita resolve este problema global com uma coisa que se chama precaridade, que ela implementaria logo que pudesse. Calculo que aplicada às populações prisionais a ideia da “precária” lhe não pareça tão boa, mas isso deve ser outra conversa.

3 – A burocracia

É uma chatice. A burocracia, que mais não é que uma espécie de império dos procedimentos, é uma chatice. A burocracia não facilita. Não serve senão para complicar.
Claro que isto é verdade.
Também é verdade que conheço muitos fanáticos anti-burocracia que, berrando lá no seu coro diário “que é preciso facilitar, pá!”, estão a cantar apenas isto: “ó pá, facilitar as coisas quando é para mim, sempre; quando é para os outros, devagar; isto porque nós queremos, sempre!, que se tenham cumprido as regrinhas todas, sim?, que nós estamos muito atentos, se não, caramba!, saltamos logo a chamar nomes a esses relapsos que facilitam!, que a burocracia é uma das coisas que, para nós, é consoante, é como quase tudo na nossa cabeça!, e não toleramos o laxismo!”.

4 – A natureza humana

Bom, a natureza humana, entendida como aquela carga de contradições - mais ou menos estanques - que a nossa espécie carrega (e faz carregar, em quantidades variáveis, claro está, a cada um dos seus indivíduos), é uma coisa inenarrável.
A natureza humana é aquele conjunto de auto-conceptualizações que, raras vezes, tem mais de “evolutivamente humano” do que de natureza e, em tocando a reunir (quando toca a reunir, a natureza humana desune-se por clãs, já repararam?), passa a ser constituído quase só por natureza, indo o resto, imediatamente, às malvas.

De facto, lolita, a maior parte das pessoas tende a reagir apenas a estímulos externos. Nada de interno e verdadeiramente inovador desabrocha de mentes assim, meramente reactivas.
E, claro está, por definição, a maior fatia destes imbecis encontra-se na função pública: são os funcionários.
É claro. Basta pensarmos: todos os dias se observam grosas de quadros de empresas privadas a passear cismando, pelos hipermercados, carregadinhos de precaridade, a mente fumegando de tamanho fervilhar de ideias férteis para “o país ir para a frente”! Não, a sério, tu estás coberta de razão. Com aspas ou sem aspas, dependendo de darem jeito casaquinhos ou não, os “pavlovianos” são funcionários públicos. Somos nós.
E porquê?
Porque não temos, ainda, precaridade. Em nos fornecendo precaridade, a nós, a estes indolentes, a estes prepotentes, a estes burocratas, a nossa natureza humana melhora logo e o mundo também. É que é logo de esguicho.

Quase te bastava teres escrito só o ponto 1, viste?

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