blog caliente.

3.6.06

Funcionários com aspas

Não resisto a deixar aqui umas notas soltas sobre a mais recente bandeira do besugo - a fulanização do termo funcionário, associado, por tradição de décadas, com o colaborador da causa pública.

Percebo porque é que isso te incomoda, besugo. Mas tu também sabes muito bem daquilo que passo a descrever. Do meu humilde ponto de vista, claro, aquilo a que se poderia chamar "as regras de funcionamento do serviço público":

1. A indolência. O serviço público, por essência, estimula o laxismo. Promove estatutos de impunidade, consequência directa da inexistência de precaridade do emprego. Sabemos que ainda hoje é anseio de muita gente uma colocação num serviço público, com vínculo permanente, que lhe permita respirar de alívio e projectar, para um futuro longínquo, a velhice confortável que gozará com o (parco) pé-de-meia que se amealha num posto sem ambições, mas sólido e seguro.

2. A prepotência. Trabalhar num serviço público suscita, para muita gente, uma inebriante sensação de domínio. O freguês nunca falta; o utente há-de sempre aparecer, a mostrar a sua incontornável dependência. Há quem se faça valer desse pseudo-estatuto dominante para dificultar a pretensão, porque os procedimentos só se engrandecem se forem complexos e demorados. E há quem descaradamente não se incomode em parecer relapso, acavalitado na doce sensação de nunca poder ser incluído num qualquer processo de reestruturação de empresa por diminuição de postos de trabalho. Trabalho público ainda é trabalho eterno.

3. A burocracia. Há burocracia que se instala por si e há quem a recrie. A gestão pública, por força da garantia da legalidade, da imparcialidade, da transparência, enreda-se em rodriguinhos tão infindos que o resultado tanto tarda que perde utilidade.

4. A natureza humana. Há poucas pessoas que agem. Que tomam iniciativas ou suscitam mudanças. A maior parte de nós apenas reage a estímulos externos. Sem estímulos, pouco se reage. Sem o temor, o mais embaraçoso dos estímulos, sossegamos.

Se não for assim, besugo, se lograres demonstrar que nada disto é assim e que tudo não passa, afinal, de preconceito anacrónico e/ou injusto, este teclado calar-se-á para sempre sobre o tema.

Pensa em ti, por exemplo, como... ótente.

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