blog caliente.

16.6.06

Dezassete segundos

No sábado que vem, um electricista encontrou um historiador num centro comercial e perguntou-lhe as horas.
O historiador respondeu-lhe que era uma hora e um quarto, que ainda ia comprar umas coisas na FNAC, que depois ia almoçar qualquer coisa simples e frugal, a seguir escrever duas coisas complicadas num blog (mas boas, mesmo boas) e, por fim, ler sete livros. E, já agora o electricista que se compenetrasse bem disso, que não ia ver o futebol, de maneira nenhuma.

O electricista agradeceu e disse-lhe que havia televisões no centro comercial, que espreitasse.
O historiador enervou-se:
- "Ó senhor: eu só estou aqui porque precisei de vir à FNAC e, já agora, vou aproveitar para me alimentar! Eu não gosto de centros comerciais, não gosto de futebol, tenha juízo!".

O electricista acabou por confessar ao historiador que, embora gostasse muito de electricidade, afinal era, apenas, médico; mas que não estava de serviço e que "muito obrigado pelas horas".

O historiador perorou, dezoito minutos depois, já em frente da sopa de nabos e da sandes de manteiga de alho, contra todos os imbecis deste mundo.
Toda a gente o escutou, porque o historiador falara alto, mesmo mais alto que a televisão do "comedoiro".
Mas o Irão estava ao ataque. De maneira que toda a gente, ali, pensou que o historiador era um dos deles. "Um dos nossos". E que apenas se indignara assim devido aos muçulmanos da bola que estavam na pantalha, como doidos, contra "nós todos". De tal maneira pensaram assim que, quando Meira desfez a jogada de perigo dos iranianos, atrasando para Ricardo Carvalho, toda a gente rodeou o historiador, sorrindo, sugerindo-lhe calma e que "vamos ganhar isto, senhor doutor!".

O historiador, assim acarinhado, sentiu que suava um bocadinho. Mas, curiosamente, lentidões inexplicáveis dos suores estranhos, só dezassete segundos depois lhe veio à ideia que, em suando assim, teria de pagar a conta e recolher ao lar, a fim de se lavar daquilo.

Foram dezassete segundos que acabaram por o fazer sorrir, contudo. Durante o banho.
Mas não foi por ter enganado o electricista nas horas: sim, que o jogo do próximo sábado foi às duas horas, não à uma e trinta e três. Foi doutra coisa qualquer.

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