blog caliente.

22.6.06

Allez les bleus

Talvez por ter crescido a ler a "Onze" e por ter assistido ao renascimento do futebol francês, todo ele adubado nas escolas de formação (o Nantes era, nos anos oitenta, o grande exemplo; o La Beaujoire era o estádio dos "jaunes", onde se moldavam os "jeunes", onde se fez Maxime Bossis), gostei sempre dos franciús.

Acompanhei a queda pouco gloriosa do Saint Etiènne, "les verts" de Michel Platini, Jean François Larios e Dominique Rocheteau, o aparecimento de dois clubes em Paris (o Racing, que equipava à Sporting, mas com as riscas em azul e branco, a dada altura patrocinado pela Matra, que desafiou a hegemonia - também recente, que Paris nunca foi uma cidade de futebol - do PSG), o zénite do Bordéus (antes e depois de Chalana, mas sempre com Giresse e Tigana e, depois, Thouvenel), fui acompanhando o Auxerre, sempre com Guy Roux e, até dada altura, com Joel Bats e Basile Boli. E, por essa vaga altura, para quem não se lembra, o Didier Six passou do Metz para o Aston Villa. E o Jean François Domergue, esse mesmo que nunca mais fez nada de jeito, o do livre directo que deu o primeiro golo da França em 84, jogava no Toulouse.

Em 1984, apesar de ter ficado triste com a nossa eliminação, vi uma equipa francesa que nos foi superior. Em 1986, no México "argentino", vi uma França que já vinha de 1982, de Espanha, uma França que jogava bem à bola, já com Jean Pierre Papin na frente (o que andara perdido no Brugges - chegou a eliminar o Boavista, alguém se lembra?, o Diamantino estava a jogar no Bessa, nessa altura, só depois foi para o Benfica, jogador fino, o Diamantino -e, depois, brilhou no Marselha de Tapie), eliminar o Brasil, embora com alguma sorte, mas de igual para igual.

E, de então para cá, o futebol francês impôs-se, tornou-se (na minha opinião) o melhor futebol jogado da Europa, ele que já era considerado o melhor "futebol escrito" do mundo.

Em 1998 foi pela França que torci. Nós não estávamos lá, note-se.
Em 2000, no Euro do Benelux sem Lux, foi duro. Foi aquilo da mão do Abel Xavier e foi aquele discreto pormenor de, mais uma vez, se ter percebido que eles eram melhores e que foi sobretudo por isso que nos ganharam.

Depois de 2000, começou a decadência desta selecção. A França nem sequer precisa de nacionalizar o Porras e o Latapy para ser a equipa mais velha do Mundial. O Platini passou o testemunho ao Zidane, ele pegou nele, mas agora - que estava na altura de o passar ele, o Zidane, a alguém que aí viesse -não se vê quem nele pegue.

No fundo, estou totalmente de acordo com o Rui Baptista. Também vou torcer pela França, contra o Togo. E em todos os outros jogos em que a França ainda entre, excepto se for contra nós. Pelos cotas bons, que já foram muito melhores mas que ainda mexem. Pelo respeito. Por Zidane. Pelo bom futebol e pela memória dele. Mesmo que, por um bambúrrio, isso resultasse, uma vez mais, num Portugal - França em que Zidane fosse, friamente, para a marca do penalty, desfazer-me o sonho outra vez - como Platini fez em 84, de bola corrida, mas a culpa maior foi do Jean Tigana, que "esticou a linha de fundo" como eu nunca vi.

Se jogarmos, um dia, melhor do que eles, juro que lhes ganhamos. Por isso estou tão calmo e tão grato à França. Por nunca ter tido, ao menos, a desfaçatez de nos eliminar sendo pior do que nós, como tantos outros já fizeram. Isso, senhores, ao menos isso, a França nunca nos fez.

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