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29.3.06

Ler as coisas todas ou ao menos algumas

Em tempos, Miguel Esteves Cardoso exortava os portugueses a ler. As exortações dele eram como todas as outras coisas dele: boas, bem escritas e para não levar a sério.

Uma pessoa que levasse a sério o MEC tinha um problema ou dois.
Tinha um problema se fosse homem (é o meu caso, sou um homem permanentemente escamado, um besugus erectus, há muito tempo, "ok, arma-te para aí!", mas sou, pronto), que era o de pensar que ele (o MEC) pensava muito nas coisas e que aquilo que ele dizia "era mesmo assim".
Tinha dois problemas se fosse mulher: além do primeiro problema, ainda havia gajas que queriam papar o gajo, embora ele seja bastante feio. Isto acontece muito com as gajas. Há gajas que , de vez em quando, resolvem apaixonar-se por gajos feios. E passa-se com alguns gajos feios, os que nasceram com o "ailleron" voltado para o satélite. Nunca hei-de entender isto bem, mas eu não sou crítico, eu só ando aqui também, mais nada.

Bom.

Ele, o MEC, chegou a exortar os portugueses à leitura, isto feito nos seguintes moldes: que era melhor lermos os rótulos dos produtos que, geralmente, se encontram nos WC - públicos ou privados -, aqueles dos desodorizantes e dos "collants", do que estarmos ali assim, sentados e com cara de imbecis, sem fazer (mais) nada. Disse mais coisas: falou sobre a atitude dos portugueses nas praias, nos comboios, nas paragens de autocarro, reparando que eles (nós) estão ali, geralmente, a olhar uns para os outros ("a ver se nos lemos em lugar de ler").

Ora bem. Agora vamos à parte em que temos de admitir que João Pedro George (que tem um blogue, mas eu não ponho o link porque ele não me lê, porque não me linka, porque toda a gente sabe qual é o blogue dele, e (supra tutto) porque eu não falo para ele, sobretudo isto, falo para quem me lê, falo para mim) não leu MEC ou, se leu, tresleu. Leu mal. Leu-se, só.

O professor de "não sei bem o quê, mas parece que é indispensável" dedicou-se a ler a obra toda de Margarida Rebelo Pinto. Eu não o fiz. Não li nada dela, mas tenho cá tudo. Mas eu não sou "professor disso, nem professor de nada". Hei-de ler um dia, a ver. E que fez o professor, sobre isto?: escreveu um livro (que deve tencionar vender e ganhar lecas) em que exorta os portugueses a não ler nada que não lhe passe pelo crivo (dele, do professor) microscopicamente poroso.

Ora, o que é um crítico? É um boi. Basicamente, "basiquement", de forma rasteira, um crítico é um mamífero que ingere pasto (e, às vezes, paga-o, nem sempre lho dão à boca), que o deixa ir até ao barrete e ao folhoso, aquela complexidade bovina que se simplifica nuns golpes de navalha e, depois, já em forma de mistela, o regurgita para a boca, para o mascar tranquilamente, de novo, com um olhar plácido de "já que ingeri esta merda, agora vou mascar esta merda outra vez: faz de conta que para mim é tudo chiclettes".
Os bois estão sempre com aquele olhar crítico de quem procura vislumbrar um palácio, enquanto "remascam" produtos execráveis de digestão, diante de choupanas.

Espero que o livrinho em que o professor se limita a tentar "ganhar mais algum dizendo mal de quem, não sendo (eventualmente, eu não li) grande merda, faz merda que julga nova", venda muito. Será sinal de que os portugueses - e as pessoas em geral, mesmo as pessoas espanholas, que acham que ler é, basicamente, mamar pastilhas - passaram a ler mais.

Como queria o MEC, afinal. Queria, e bem, que se lesse mais. "Leiam, animais! Nem que seja merda, leiam!", berrava ele. E berrava bem.
Apesar de eu insistir nisto: o MEC levava-se a sério, mas menos, muito menos, do que quem o lia, do que quem o lê e, fundamentalmente, muito menos a sério do que qualquer "crítico" se leva a si. E a ele.
Claro, há aquela lamentável excepção da "Escrítica Pop", mas aquilo valeu sempre, apenas, por subentender, foneticamente, "escroto".

Se não acreditam perguntem-lhe. Há-de dizer, o mentiroso, que não teve nada que ver com isso e remeter-vos-á à sua aunt Fanny. Ou assim.

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