Gloria sanctus
Há um largo espectro de anti-tabagistas, fumadores passivos, Torquemadas, Santas Quitérias, investigadores, juristas anónimos do Ministério da Saúde e, até, simples curiosos que são convictamente favoráveis às leis repressoras do fumo do tabaco. Para quem é fumador, pode-se bem como eles todos; no fundo, até apreciamos a fé inabalável com que defendem o imperativo categórico dos maléfícios do fumo, de tão cientes que estão da profunda importância de desviar os prevaricadores de tão venenoso vício.Inquietante, isso sim, é perceber que o fumo do tabaco já há muito deixou de ser uma questão de saúde pública (ou até privada, para o caso tanto faz) para ser elevada à categoria dos actos moralmente e socialmente condenáveis. Daqui até que nos assalte, a nós fumadores, o sentimento de culpa, o estigma da censura alheia, a rejeição, a exclusão social, vai um pequenino passo. O besugo, por exemplo, já sucumbiu.
Eu pressinto penitência dura e profunda, nisto que o besugo escreveu aqui em baixo. A culpa insuportável pelo pecado cometido, que o faz entregar-se voluntariamente às mãos dos seus carrascos, aceitando o castigo e suplicando redenção.
Percebe-se que uma medida eugénica teve êxito quando até as vítimas da medida a aprovam, capitulando. Porque guerra é guerra e porque, mesmo quando se perde uma guerra, não se podem (devem) roubar as almas dos derrotados, não descansarei um segundo que seja até que o besugo me jure que quer deixar de fumar, sim, não explicando porquê, talvez, mas, ainda assim, certo de que quer parar de fumar apesar de.
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