Má quadra
Já tinha dado conta. Isto passa-se há mais de cinco anos, não é recente, sequer.Falo das mensagens escritas. "Boas festas, parabéns, as melhoras, lamento imenso, queria estar contigo...".
Recebi algumas. Toda a gente recebe algumas. Uns mais, outros menos. É como tudo.
Respondi a duas. Vinham completas, pelo menos.
Algumas vinham abreviadas, tipo "Bom Ntl, bx fxts, bjs!". Depois parei e decidi que não sou bom nisso. Para começar, não recebo as mensagens como deve ser, porque tenho um telemóvel com cinco anos de existência, que não aceita "coisas giras". Por fim, porque eu próprio não sei mandar "coisas giras". Não mandei mais.
Isto não é da idade: o meu Pai tem um telemóvel mais moderno que o meu e acha piada a isto. Enfim, alguma, que eu já vi que não se ajeita: sorri e depois telefona; ou não.
Também não é caturrice de quem é avesso às inovações, porque eu até aprecio a política de renovação do plantel do Sporting e tudo. Sobretudo a saída do Beto, que havia de ir para o Benfica ou para o Porto, se não conseguisse ir para a Mauritânia.
Não. É que a ânsia de comunicar, essa inflamação digital de que parecemos todos possuídos, é toda muito "sms", leia-se "sem muito senso".
Agora a sério, não vejo nenhum inconveniente nisso. Palavra. Se eu quero dizer à Teresa que vou chegar tarde, que tenha paciência, que espere mais um bocado, mando-lhe uma sms a dizer "xg trd;bjs". Falta é o contraponto, que nunca chega, ao menos nos mesmos moldes. A Teresa, não me parece que vá mandar-me uma sms a dizer "dxpxt fdp, k já tô de servç há 24 hrs!". O mais certo é ligar-me de volta, exasperada, a bradar "ó besugo, vê se te despachas, mas é, ó cabrão!". Porquê? Porque a intensidade dela é maior que a minha. Eu estou atrasado e ela, com toda a razão, acha que eu estou atrasado para ela. O que é verdade. Eu quis despachá-la, ela quis que eu me despachasse. Eu mandei-lhe uma sms por mim, ela ligou-me a insultar-me de viva voz, por ela!
É uma questão de intensidades. Quem nos manda sms, a dizer seja o que for, está-se a cagar para nós e para a maneira como nós estamos, quer apenas dizer-nos o que disse e espera, sinceramente, além de que estejamos bem (e essas merdas todas que costumam desejar-nos), que não sejamos maçadores. Merece, consoante o caso, o seguinte: uma sms de resposta (podemos dizer o que quer que seja, que quer sempre dizer "vtf tb!" ), nada de nada (versão nicles), ou, então, um telefonema, sim o velho telefonema, a perguntar "então, cabra? não me ligaste porquê, ainda estava aí o Sérgio a lavar os dentes, era?".
As sms, em boa verdade, são como os peidos. Não, a sério, são como os peidos. No sentido de que o emissor fica sempre muito mais consolado, porque "já cumpriu". O receptor (que, no caso dum peido, pode ser uma sala cheia de gente, mas, no caso vertente é, geralmente, só um tipo a fazer papel de parvo, a carregar em teclas pequeninas e a tentar decifrar o que lhe chegou ali "a dar sinal") fica a pensar se há-se cumprir também, ou não, tudo isto enquanto vai apreciando o aroma.
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