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28.7.05

Escolas e rigores

De Antero disse Eça que "a sua face, a grenha densa e loura com lampejos fulvos, a barba de um ruivo mais escuro, frisada e aguda à maneira siríaca, reluziam, aureoladas".
Chamou-lhe, sempre que pôde, Santo Antero. Um "refulgente espelho de sinceridade e rectidão", possuidor do "claro riso dos heróis" e da força imensa da razão, que mesmo "em brigas que fossem justas o seu murro era triunfal".

Tinha Antero, contudo, "certos modos ainda então inexplicáveis - dias de tristeza e esparsa cólera, um querer e não querer entrechocados, entusiasmos que logo escarnecia, bocados de vida que deixava sumir em fumo, e esses apetites de solidão...".

Esteve em Vila do Conde, já mais para o fim, numa casa "simplificada até ao cenobitismo, e onde por único adorno, além de livros numa estante de pinho, havia flores das sebes em púcaros de barro". E no Porto, em Cedofeita.

Conta Eça que se despediram, por fim, "Adeus, Santo Antero!" - "Velho amigo, adeus!" e que nunca mais o viu.
Foi para São Miguel, onde nascera. E lá se matou, num sítio onde passei algum tempo do meu bom desterro açoriano, sentado num banco de jardim que me disseram ser o mesmo ( o sítio era) em que Antero, "concluindo que a vida lhe não convinha, saiu dela voluntariamente e por isso muito deixou que pensar e murmurar aos homens...".

Claro que Jerónimo de Sousa é sólido, lolita. Tem, mesmo, os pulsos firmes de quem não os afilou dissecando o seu Hayek, o seu Martin, em esplanadas. E é sereno que Antero (aquele grito que vem no Abrupto, que citas) teria de fazer, por força, pela própria força, parte das suas escolhas. Se Eça escolhia bem, porque haveria de escolher pior Jerónimo? Que, ainda por cima, há-de ter o bom gosto e a sabedoria de perdoar a Antero a desistência. Como Eça perdoou, não entendendo.
Outras escolas, mais antigas.

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